Mensagem do Custódio e do Ministro Geral em ocasião da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus

Franca/SP, 10 de junho de 2021

À Fraternidade Custodial: confrades, noviços, postulantes e aspirantes.

Às Clarissas, Religiosas, Irmãos e Irmãs da OFS e JUFRA e fiéis devotos de nossas comunidades, que o Senhor vos dê a paz.

“Viu, sentiu compaixão e cuidou dele.” (Lc 10, 33-34)

Esse foi o lema que escolhemos juntos para balizar o nosso Capítulo Custodial, que será realizado em novembro próximo. É tirado da conhecida passagem da parábola do Bom Samaritano do Evangelho, segundo Lucas. Diante dessa atitude louvável e misericordiosa, podemos e devemos perguntar: quem é verdadeiramente este samaritano?

Sem aprofundar o mérito exegético-teológico desta passagem, mas recorrendo aos padres da Patrística (Orígenes), cito-o afirmando que este Samaritano é o próprio Cristo que veio para nos acudir, curar as nossas feridas do pecado e devolver-nos a vida. Só ele foi capaz verdadeiramente de aproximar, isto é, de se fazer próximo do homem, mesmo que este estivesse na sua situação mais degradante possível. Só ele foi capaz de amar, de estar bem perto de nós, dentro de nós, em nosso coração e em nossa boca.

Ver, sentir compaixão e cuidar não são prerrogativas para qualquer vontade da fragilidade humana, se, não antes, experimentado o amor de Deus, que nos amou por primeiro (1 Jo 4,19). São verbos provocativos que nos induzem a um movimento circular de inspiração e expiração no sentido espiritual, onde, este sentido ‘o ver’ leva a uma interiorização da cena, purificada no coração, despertando um sentimento: ‘a compaixão’. Neste movimento espiritual, ‘o ter compaixão’ provoca uma atitude; um sair de si mesmo capaz de transformar a cena: ‘o cuidar’. Esta é a realidade humana que experimentou por primeiro o amor de Deus como João nos recorda na sua Primeira Carta, já citada. Estas atitudes são consequências do fato de que Deus amou-nos e se aproximou por primeiro de nós e é justamente com esta autoridade da proximidade do filho com a condição humana, que ele mesmo nos diz: “Vai e faze tu o mesmo” (Lc 10,37)

Pois bem, irmãos, estamos vivendo em tempos de profundas crises nas várias dimensões. No entanto, não podemos recuar e nos escondermos, como os Apóstolos no Cenáculo no primeiro momento. Faz-se necessário abraçar o futuro com esperança e ânimo de dias, de tempos melhores, confiantes de que o Senhor que tudo conhece, faz-se próximo e caminha conosco na árdua estrada da Jericó para a Jerusalém. O seu Coração comove-se no íntimo e arde de compaixão por nós (Os 4,8), pois nele todos nós tornamo-nos filhos e filhas no Filho pela estrada aberta por aquele soldado que transpassou com a lança o seu lado na Cruz, fazendo jorrar o sangue e água , elementos vitais da nossa regeneração, o Batismo e a Eucaristia.

Ao celebramos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, significa redescobrir a razão profunda do que aconteceu na cruz. Ali realizou-se um ato de obediência total e perfeita que fundamentou toda a vontade de Deus: a redenção e a salvação de todos os homens. O Coração de Jesus ressuscitou, livre do peso da carne mortal. Está vivo ‘no Espírito’ como todo o Cristo. É um coração que existe, palpita em toda parte, tornando-se novamente próximo de todo o mundo, íntimo de todos nós, até mais que a nós mesmos. Por esta fé em Cristo, nós temos a liberdade de nos aproximarmos de Deus com toda a confiança (Ef 3, 12) e segundo a riqueza da sua glória, somos robustecidos, por seu Espírito, quanto ao homem interior e por esta mesma fé, Cristo habite os nossos corações para estarmos enraizados e fundados no amor. Há uma porta aberta no Coração de Jesus, estreita, mas aberta a todos, aos santos e aos pecadores, que nos conduz à intimidade com Jesus. É uma fonte inesgotável de amor e misericórdia que o Pai mesmo nos preparou no Filho, onde somos todos irmãos.

Não tenhamos medo de vislumbrar o futuro e abraçá-lo com esperança com o amor apaixonado a exemplo de São Francisco de Assis, pois só assim teremos a capacidade de compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo. Repito: não tenhamos medo. Assim também no encoraja o grande São Boaventura: “Corre àquela fonte de vida e de luz com o desejo vivo, quem quer que sejas e com a íntima força do coração grita-lhe: Ó eterno e inacessível, esplêndido e doce fluir de fonte escondida aos olhos de todos os mortais! A tua profundidade é sem fim, a tua altura sem limites, a tua amplidão é infinita, a tua pureza é imperturbável! De ti nasce o rio que alegra a cidade de Deus, porque ‘em meio aos cantos de uma multidão em festa’ podemos cantar-te hinos de louvor, demonstrando, como testemunho da experiência, que em ti está a fonte de vida e à tua luz veremos a luz.”  (Opusculum 3)

Que o Sagrado Coração de Jesus tenha piedade de todos nós e do mundo inteiro e que não nos cansemos de pedir que Jesus faça com que o nosso coração se assemelhe ao Dele para que, pouco a pouco, se torne semelhante ao Seu. Na Rezemos, reciprocamente, especialmente, para que os nossos corações se revistam a cada dia do Coração de Jesus e sejam canais amor de Deus aos irmãos e irmãs do nosso tempo.

Feliz Solenidade do Sagrado Coração de Jesus!

Em Francisco e Clara de Assis,

Frei Fernando Aparecido dos Santos, OFM

Custódio


Mensagem do Ministro Geral em ocasião da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, “Patrono” de nossa Custódia


Acompanhe também a reflexão especial da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus da série: “Luz do meu caminho”