Festa da Apresentação do Senhor: “[…] podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação!”

LEITURAS: Ml 3,1-4 / Sl 23 / Hb 2,14-18 / Lc 2,22-40

São Lucas é o único evangelista que narra a apresentação de Jesus no templo de Jerusalém. Certamente esta apresentação corresponde às exigências religiosas da tradição do livro do Êxodo no capítulo 13, onde diz que “todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”. É isto que faz também Ana ao levar Samuel para o templo e consagrá-lo. A diferença é que Ana deixou Samuel no tempo para servir a Deus (cf 1Sm 1,24ss). Jesus foi apresentado num ritual também de purificação de acordo com outra lei para as mães que dessem à luz um menino (cf Lv 12). Como Maria e José eram pobres, eles só puderam oferecer “um par de rolas ou dois pombinhos”. Assim cumpriam todos os deveres religiosos daquele tempo como uma família temente a Deus.

No templo, porém, todos se surpreendem, pois as pessoas que os recebem enaltecem o Menino Jesus como a “luz para iluminar as nações e glória do povo de Israel”. Esta é a expressão do “justo e piedoso” Simeão que, junto com a profetisa Ana, representa a esperança do povo de reestabelecer a aliança de Deus e chegar à “libertação de Jerusalém”. Ambos são apresentados como tendo idade avançada. Simeão já estava esperando a morte e Ana “era de idade muito avançada”. Isto significa que eram pessoas respeitadas pela experiência e sabedoria da vida. A admiração de Maria e José se justifica, pois eles também esperavam o cumprimento das promessas de Deus, mas certamente não imaginavam fazer parte da ação de Deus.

Jesus nasceu como um de nós, completamente humano, frágil, com as necessidades e os limites humanos. Para muitos cristãos era difícil aceitar esta condição humana de Jesus, por isso o autor da carta aos Hebreus escreveu que Ele quis “fazer-se em tudo semelhante aos irmãos, para se tornar um sumo sacerdote misericordioso e digno de confiança nas coisas referentes a Deus, a fim de tirar os pecados do povo” e purificá-lo. Assim Jesus tornou-se libertador do seu povo.

Na primeira leitura o profeta Malaquias, que atuou no século IV antes de Cristo, no tempo das reformas de Esdras e Neemias, anuncia que virá no templo um “Dominador” que irá purificar o povo. Este anúncio do profeta é um chamado à conversão para a justiça, pois as pessoas tinham se afastado de Deus e era tempo de restaurar a aliança, o compromisso com o Deus verdadeiro que nunca abandonara o seu povo. Hoje também os cristãos são chamados à conversão e retomar o compromisso com o projeto de Deus que prevê “vida em abundância para todos”.

Frei Valmir Ramos, OFM