Bianca Fraccalvieri (Vatican News)
“Senhor, dai-nos o desejo e fazê-lo crescer”: na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Francisco deu prosseguimento ao seu ciclo de reflexões sobre o discernimento, acrescentando mais um “ingrediente” indispensável: o desejo. Nas semanas precedentes, o Pontífice discorreu sobre a oração e o conhecimento de si.
Com efeito, o discernimento é uma forma de busca, e a busca deriva sempre de algo que nos falta mas que, de certo modo, conhecemos.
O desejo, todavia, não é a vontade do momento. A palavra italiana vem de um termo latino de-sidus, literalmente “a falta da estrela”, do ponto de referência que orienta o caminho da vida; ela evoca um sofrimento, uma carência e, ao mesmo tempo, uma tensão para alcançar o bem que falta. Então, o desejo é a bússola para compreender onde estou e para onde vou. “Ou melhor, é a bússola para entender se estou parado ou se estou em movimento, uma pessoa que nunca deseja é uma pessoa parada, talvez doente, quase morta.” Obstáculos e fracassos não sufocam o desejo; pelo contrário, tornam-no ainda mais vivo em nós.
A época em que vivemos, disse ainda o Papa, parece favorecer a máxima liberdade de escolha, mas ao mesmo tempo atrofia o desejo, reduzido principalmente à vontade do momento. Somos bombardeados por mil propostas, projetos e possibilidades, que correm o risco de nos distrair e de não nos permitir avaliar com calma o que realmente queremos.
Dialogar com o Senhor
Muitas pessoas sofrem porque não sabem o que querem da própria vida; provavelmente nunca entraram em contato com o seu desejo mais profundo. Daqui deriva o risco de passar a existência entre tentativas e expedientes de vários tipos, sem nunca chegar a lado algum, desperdiçando oportunidades preciosas.
“Dialogando com o Senhor, aprendemos a compreender o que verdadeiramente queremos da nossa vida”, disse o Papa, que advertiu quanto ao perigo das lamentações, como faz o paralítico na piscina de Betzala.
“Cuidado que as lamentações são um veneno, um veneno para a alma, um veneno para a vida, porque não deixam crescer o desejo de ir avante. Quando há lamentações na família, entre os cônjuges, os fihos que se lamentam do pai ou os padres do bispo e os bispos de muitas outras coisas… Não, se vocês vivem de lamentações, cuidado. É quase pecado, porque não deixa o desejo crescer.”
Outra advertência do Pontífice foi quanto aos jovens que ficam presos no celular, sempre extroversos em direção a outrem. Mas “o desejo não pode crescer assim”, preso somente no momento presente.
Eis então o convite do Papa a pedir ao Senhor que nos ajude a conhecer profundamente os nossos desejos e nos conceder a força para o realizar. “É uma graça imensa, na base de todas as outras: permitir que o Senhor, como no Evangelho, faça milagres para nós: Dai-nos o desejo e fazê-lo crescer, Senhor.”
Afinal, também Ele tem um grande desejo em relação a nós: tornar-nos participantes na sua plenitude de vida.