LEITURAS: Ne 8,2-4a.5-6.8-10 / Sl 18B / 1Cor 12,12-14.27 / Lc 1,1-4; 4,14-21
O evangelista Lucas é o único que apresenta esta passagem em que Jesus está na sinagoga em Nazaré e lê um breve texto do profeta Isaías. Jesus frequentava as sinagogas e o templo de Jerusalém, como também os primeiros cristãos farão depois. Certamente foi na sinagoga que Jesus aprendeu a ler e conheceu as Escrituras.
Lucas, que fez um “estudo cuidadoso de tudo que aconteceu desde o princípio”, apresenta já no início do seu Evangelho que Jesus veio cumprir as Escrituras. A ação de Jesus é impulsionada pelo Espírito Santo que é a força criadora de Deus. Na sinagoga, Ele lê o profeta Isaías (Is 61) e reconhece que aí está o programa de sua missão. Cheio do Espírito, Jesus se reconhece e se apresenta como o “ungido” por Deus “para anunciar a Boa-nova aos pobres”. No Antigo Testamento a “unção” faz referência ao Messias, o Salvador. Jesus, tomando as palavras do profeta Isaías, a apresenta no sentido de missão profética para anunciar a mensagem de Deus.
A mensagem não será apenas um ensinamento teórico, ou um discurso, mas uma prática de realização da vontade de Deus que ama a todos e dá vida em abundância a todos. Por isso, no programa de ação de Jesus está a “libertação dos cativos, aos cegos a recuperação da vista; libertar os oprimidos e proclamar um ano da graça do Senhor”. “Anunciar a Boa-nova aos pobres” porque são eles que ficam excluídos da sociedade e da comunidade religiosa; e são eles que têm maior abertura para receber a Palavra de Deus. Libertar os “cativos” porque a maioria dos presos daquele tempo estavam na prisão por pequenas dívidas financeiras e não porque eram criminosos. Restituir a vista “aos cegos” é referência aos presos libertos que, depois de passar longos períodos no escuro das prisões subterrâneas, veriam novamente a luz. “Libertar os oprimidos” porque na sociedade nem todos tinham as mesmas oportunidades e os seus direitos respeitados e, além disso, eram explorados pelo trabalho mal remunerado e pelos impostos. O “ano da graça do Senhor” faz referência ao jubileu que, no Antigo Testamento, previa a devolução dos bens confiscados, especialmente a terra, pois ela pertence a Deus.
Esta palavra de Jesus provocou admiração e perseguição, pois entre os seus conterrâneos, Ele não era reconhecido como profeta. Hoje os cristãos são chamados a dar ouvido à Palavra de Deus, como o povo o fez na primeira leitura, quando Esdras leu a Escritura reencontrada na reforma do templo. Em obediência, abraçar o projeto de Deus para continuar a missão de Jesus, uma vez que todos os batizados são ungidos pelo Espírito Santo para serem instrumentos de libertação de todas as situações de injustiças e opressão.
Frei Valmir Ramos, OFM