
LEITURAS: Nm 21,4b-9 / Sl 77,1-2.34-38 / Fl 2,6-11 / Jo 3,13-17 (ou 15,1-10)
Este diálogo com Nicodemos é exclusivo do Evangelho de João que contextualiza a cena em Jerusalém por ocasião da festa da Páscoa judaica (cf. Jo 2,13). É curioso que, sendo fariseu “notável”, Nicodemos chame Jesus de “Mestre” e reconheça que Ele “vem de Deus”. Esta introdução dá a base para o ensinamento de Jesus que revela a pregação da Igreja primitiva, inclusive com as suas tenções internas em relação ao batismo. O texto se refere ao batismo como o “nascer do alto”, de novo, “da água e do Espírito”. No trecho do Evangelho de hoje, Jesus antecipa que iria passar pela cruz, sendo obediente à vontade do Pai para salvar a humanidade.
De fato, Deus enviou seu único Filho para que quem “nEle crer tenha a vida eterna”. Ele é a fonte da vida, Ele é a vida, é aquele que entrega a própria vida por amor e dá a vida àqueles que nele creem. Com a ressurreição de Jesus a vida adquire a eternidade. O Pai quer reaver a amizade de seus filhos e filhas que se distanciaram dEle por causa do pecado, do ódio, do egoísmo. Jesus, sendo enviado ao mundo, reconcilia os pecadores, pois revela o rosto misericordioso de Deus Pai. Ele mesmo diz “quem me vê, vê o Pai”. Por isso, Jesus perdoa os pecados e convida os pecadores à conversão, à prática da justiça e à vivência do amor fraterno.
A decisão de Jesus de ir para Jerusalém revela a sua plena obediência ao Pai como vemos na segunda leitura, sendo “obediente até a morte de cruz”. Mesmo sabendo do risco que corria indo para o centro dos poderes religioso, político e econômico, Jesus não renuncia à construção do Reino e ao anúncio da verdade e da Boa Nova. Por um amor infinito, vivido na prática, Jesus abraçou a cruz e não voltou atrás diante do sofrimento. Aí entendemos porque o evangelista fala de Jesus levantado na cruz. Lá na cruz Ele não é um derrotado, ou simplesmente um mártir a mais. Ele é a fonte da vida, Ele é a vida, aquele que entrega a própria vida por amor e dá a vida àqueles que nele creem. Com a ressurreição de Jesus a vida adquire a eternidade. É a maravilhosa misericórdia de Deus agindo na vida e na história humana.
São Francisco foi profundamente marcado pela cruz de Jesus Cristo. Em toda a sua vida o adorava na cruz e queria participar de seu sofrimento, sabendo que através da cruz chega a salvação. Repetia em adoração: “vos bendizemos porque pela santa cruz remistes o mundo”. A sua veste religiosa (hábito) tinha a forma de cruz e ele assinou o bilhete a Frei Leão com um Tau, sinal representante da cruz salvadora. Nos leprosos ele via Jesus crucificado pelo sofrimento da doença e da discriminação e abandono. Finalmente, dois anos antes de morrer, recebeu o sinal da cruz em seu corpo através dos sagrados estigmas.
Nós cristãos de hoje somos chamados a adorar o Crucificado contemplando a sua paixão e glorificando a Deus pela ressurreição que tornou a cruz sinal de salvação. Ao mesmo tempo, somos chamados a sair da indiferença diante de tantos irmãos e irmãs ainda crucificados pelas enfermidades, pela discriminação, pela violência e pela fome.
Frei Valmir Ramos, OFM