LEITURAS: 1Rs 17,10-16 / Sl 145 / Hb 9,24-28 / Mc 12,38-44
A liturgia nos oferece duas passagens que o evangelista Marcos une no ensinamento de Jesus no templo de Jerusalém. A primeira é a controvérsia com os doutores da Lei que, conhecendo bem as Escrituras, fazem uma interpretação que defende os próprios interesses e vivem no luxo às custas dos pobres. A outra é a prática religiosa de uma viúva que deposita sua confiança somente em Deus.
Como no Antigo Testamento, os mais pobres que são mais excluídos são as viúvas, os órfãos e os estrangeiros. Na primeira leitura vemos Deus agindo em favor de uma viúva e seu filho, portanto órfão de pai, através do profeta Elias. São estrangeiros que estão na miséria e a única esperança é a morte. Elias devolve a esperança e mostra como o Deus da vida não abandona os abandonados da sociedade. O texto sugere que Elias está fugindo do rei Acab que colocou sua confiança em um ídolo. O profeta anuncia o Deus verdadeiro que cuida de seus filhos e filhas providenciando a fertilização da terra e alimento em abundância para todos.
No Evangelho, a viúva representa os abandonados e os que são explorados por aqueles que dominam a sociedade. Mais ainda, Jesus diz que os doutores da Lei “devoram as casas das viúvas”. Isto significa que eles não têm clemência e cobram os impostos daquilo é necessário para manter a vida das viúvas. Foi isso que Jesus observou no templo. Uma viúva fez a oferta “daquilo que possuía para viver”. Significa que ela tirou do necessário para manter a vida, enquanto os ricos depositavam o supérfluo.
Aos cristãos Jesus ensina que é necessário ler corretamente o significado das Escrituras e colocar-se na pele dos pobres, excluídos e necessitados. Ele indica que a solidariedade é um caminho da prática da fé. Isto não significa simplesmente dar esmola aos pobres de forma humilhante e que cria dependência, mas agir de modo que possam ser promovidos humanamente e socialmente. O Papa Francisco indica a prática da solidariedade em sua Exortação Apostólica Evangelii Gaudim: a solidariedade “supõe a criação de uma nova mentalidade que pense em termos de comunidade, de prioridade da vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns” (EG 188).
Por outro lado, Jesus indica aos cristãos, especialmente aos líderes da Igreja e aos religiosos, que o desejo de privilégios e a corrida pelos primeiros lugares são atitudes mesquinhas dos incoerentes. Por isso mesmo, os cristãos precisam buscar sempre a coerência diante de Deus e reconhecer que “são o que são aos olhos de Deus e nada mais”, como diz São Francisco de Assis.
Frei Valmir Ramos, OFM