LEITURAS: Is 35,4-7a / Sl 145 / Tg 2,1-5 / Mc 7,31-37
Quando João Batista mandou perguntar a Jesus se Ele era o Messias, a resposta foi: “os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados” (Mt 11,5). Isto significa que Deus cumpriu a sua promessa de acudir os sofredores e marginalizados de seu povo e enviou Jesus como Messias, o Salvador. É Jesus o libertador das situações desumanizantes que os pobres precisam enfrentar.
No Evangelho de hoje Jesus está cumprindo a sua missão fora da Galileia. Isto indica que Ele veio salvar a todos e não apenas um grupo. Sua ação narrada no Evangelho é a de devolver a dignidade ao surdo-mudo. É bom lembrar que as pessoas com alguma necessidade especial eram tidas como pecadoras ou possuídas por algum espírito impuro. Ou então eram filhas de pais pecadores e, por isso mesmo, eram discriminadas e marginalizadas na sociedade e no culto. Por isso, vemos nos Evangelhos que os cegos, os surdos-mudos e os aleijados precisam pedir esmolas para não morrerem de fome. Quando Jesus cura o surdo-mudo está indicando que a profecia de Isaías, que ouvimos na 1ª leitura, já se cumpriu. É Ele o enviado por Deus para perdoar os pecados, curar as enfermidades, devolver a dignidade e evangelizar os pobres.
Na interpretação dos judeus (fariseus, saduceus e mestres da Lei), Jesus é um charlatão. Eles não aceitam que Deus tenha se encarnado e que sobreponha a lei do amor aos preceitos religiosos criados ao longo dos séculos. De fato, quando Jesus cura o surdo-mudo, tido como pecador, Ele está dizendo que aquele surdo-mudo está perdoado ou não tem pecado. Isto para os judeus é um escândalo. Mas Jesus não faz diferença entre as pessoas e acolhe todas: mulheres, crianças, pobres, doentes, pecadores e estrangeiros.
O autor da carta de Tiago na 2ª leitura dá um puxão de orelha na comunidade cristã que começou a fazer distinção entre as pessoas ricas e pobres. Já naquele tempo o “prestígio” do mundo queria ser mantido na comunidade religiosa. Mas, Jesus havia dito aos discípulos “vós todos sois irmãos” e indicava assim que a sua nova família seria de pessoas com os mesmos direitos e deveres, sem maiores ou menores, e todos com a mesma dignidade e importância.
Hoje nós precisamos continuar a missão de Jesus de restituir a dignidade a quem a teve tirada ou roubada, de “curar” os surdos-mudos, os cegos, os doentes, os aleijados. A forma para fazê-lo é inseri-los na sociedade de modo que vivam integrados e dignamente, mesmo com necessidades especiais. Em nossas comunidades não podem subsistir os “sobrenomes” em detrimento à dignidade e importância dos pobres.
Frei Valmir Ramos, OFM