LEITURAS: Prov 31,10-13.19-20.30-31 / Sl 127 / 1Ts 5,1-6 / Mt 25,14-30
A parábola do Evangelho está no contexto do anúncio da realização plena do Reino de Deus com a vinda gloriosa de Jesus. Reflete o momento em que a comunidade cristã esperava a segunda vinda de Jesus, a chamada “parusia”. Como sabemos, a parábola é um recurso pedagógico para transmitir um ensinamento. Jesus usa termos conhecidos, porém o significado vai muito além do que parecia.
A ausência física daquele homem que viajou pode ser entendida como a ausência física de Jesus, mesmo que permaneça sempre com seus discípulos de outro modo. Os discípulos são convidados a “não dormir”, mas serem “sóbrios” porque chegará o “dia do Senhor”, como vemos o alerta à comunidade de Tessalônica na 2ª leitura. Isto significa vivenciar a fé ativamente, mesmo dormindo as horas necessárias para o descanso cotidiano. Ser sóbrio na fé significa não permitir que a verdade do Evangelho seja ofuscada por doutrinas ou ideologias.
O talento era uma moeda de grande valor e é usado no Evangelho para indicar os “dons” recebidos de Deus. Na parábola os “servos” indicam os cristãos que devem fazer o Reino de Deus frutificar. Por isso, a “administração” significa ter uma participação ativa na construção do Reino de Deus. Isto é cobrado de cada seguidor de Jesus. Aquele “servo” que enterrou o talento agiu como se a fé fosse algo a ser guardada num cofre e reservada para si de modo egoísta. Jesus então ensina que a fé é vida que se manifesta nas ações concretas de amor para com os outros. Isto é multiplicar os dons.
Uma expressão já conhecida e certamente inserida no discurso de Jesus é aquela que diz “àquele que tem se dará em abundância; mas àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado”. Esta expressão indica o âmbito da sabedoria e do conhecimento dos mistérios do Reino de Deus. Então, os judeus que não acolhiam os ensinamentos de Jesus eram estes que estavam fechados à novidade trazida por Ele e continuavam ignorando que Deus estava encarnado no meio do seu povo. Os cristãos receberam a graça do batismo e foram convidados a acolhê-la em abundância e produzir frutos para o Reino também em abundância.
Na 1ª leitura temos o louvor à mulher que, além de trabalhar, “estende a mão ao pobre e ajuda o indigente”, “que teme a Deus”. Esta mulher é aquela que multiplica os talentos. Aí o livro dos Provérbios, cheio de sabedoria, mas escrito numa sociedade machista, reconhece a grande dignidade da mulher os olhos de Deus.
Hoje todos nós cristãos somos chamados a vivenciar nossa fé de modo que o Evangelho continue brilhando no mundo: “vocês são filhos da luz, filhos do dia” diz São Paulo na 2ª leitura. De fato, o amor verdadeiro vivenciado em ações concretas e corajosas dos cristãos mostram a presença viva de Jesus no mundo. Além disso, revela a verdade sobre Deus que é Amor e não castigo e severidade de quem os filhos e filhas devem ter medo.
Frei Valmir Ramos, OFM