LEITURAS: Ez 18,25-28 / Sl 24 / Fl 2,1-11 / Mt 21,28-32
Os evangelistas apresentam uma série de controvérsias de Jesus com os líderes religiosos dos judeus. Normalmente são diálogos em que Jesus propõe uma pergunta e eles respondem contra si mesmos. No texto do Evangelho deste Domingo, Mateus apresenta uma parábola de Jesus sobre a necessidade de conversão para entrar no Reino de Deus, isto é, fazer a vontade de Deus para participar com ele da vida eterna. Citando três personagens, um pai e dois filhos, Jesus mostra um que inicialmente resiste à vontade do Pai e depois a cumpre; outro que é incoerente, pois aparentemente aceita a vontade do Pai, mas não a põe em prática.
O texto é simples e bem claro, fazendo entender que a vinha é o Reino de Deus no qual todos devem trabalhar no “caminho da justiça” ensinado por João Batista. O primeiro filho representa todos os considerados pecadores públicos como é o caso dos “cobradores de impostos (publicanos) e as prostitutas”. O segundo são os líderes religiosos judeus, incluindo “fariseus, saduceus, escribas e mestres da lei”, que conheciam a Palavra, mas não a colocavam em prática, pois ficavam no discurso e perdidos em disputas estéreis. Jesus provocou a ira dos judeus, pois afirmou que os mais desprezados da sociedade os precederiam no Reino. Na prática, os judeus não aceitaram que Deus pudesse usar de misericórdia e que os pecadores pudessem mudar de vida. Eles se consideravam “justos” aos olhos de Deus, mas estavam longe de praticar a justiça divina.
O profeta Ezequiel já havia denunciado a pretensão de alguns que chegavam a dizer que “a maneira de proceder do Senhor não é justa”. Eles pensavam a partir da lógica humana que classifica como justo somente aquele que segue a lei, mesmo que fira os mais sagrados direitos das pessoas. O profeta é claro em anunciar a voz de Deus que espera a conversão do pecador para se “afastar do mal e praticar o direito e a justiça”. O amor de Deus é gratuito e espera de seus filhos e filhas a obediência à sua vontade.
O Mestre Jesus é o grande sinal de obediência à vontade do Pai. Na carta aos Filipenses temos o testemunho: “Jesus que era de condição divina… assumiu a condição de servo, tornou-se semelhante aos homens… humilhou-se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de cruz”. O Pai não queria a morte de Jesus, mas os homens não entenderam o seu projeto e usaram a lei para condená-lo à morte. Com a ressurreição, porém, Jesus saiu vencedor da morte, da violência e de toda forma de aniquilamento da vida.
Os cristãos de hoje são chamados a espelhar-se no Mestre, ouvir e colocar em prática a vontade de Deus, realizando a palavra de São Pedro: “obedecer a Deus antes que aos homens” (cf At 5,29) e tomando sempre o caminho da conversão constante.
Frei Valmir Ramos, OFM