LEITURAS: Is 55,10-11 / Sl 64 / Rm 8,18-23 / Mt 13,1-23 (13,1-9)
São Mateus apresenta a parábola do semeador por primeiro em mais um discurso de Jesus para as multidões. Como Jesus está num ambiente em que todos conhecem as realidades do campo, Ele usa a imagem do semeador e da semente para indicar o anúncio do Reino de Deus que é o núcleo da sua pregação. Acontece que existiam aqueles que tinham “endurecido o coração” e não aceitavam a Boa Nova do Reino. Então vemos na sequência a explicação da parábola, o que raramente acontece nos evangelhos.
A semente é interpretada como sendo a Palavra de Jesus. No entanto, no Evangelho deste Domingo, Jesus fala de “um homem”. Trata-se daquele que “recebeu a semente ao longo do caminho”, “daquele que recebeu a semente em terreno pedregoso”, “daquele que recebeu a semente entre espinhos” e finalmente “daquele que recebeu a semente em terra boa”. Este “homem” é o destinatário da Palavra do Reino responsável por fazê-la produzir frutos. A situação da parábola reflete a realidade da Igreja primitiva formada por homens e mulheres quando alguns estavam, como diz Jesus, na condição daquele que “ouve a Palavra e não a compreende”, outros daquele que sucumbe quando “chega a tribulação ou a perseguição por causa da Palavra”, outros ainda daquele que “os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a Palavra”, e alguns daquele que “ouve, compreende e dá fruto”.
Através do profeta Isaías Deus mostra que sua Palavra não é estéril e vem para frutificar. Podemos entender então que a Palavra fecunda o coração da pessoa para que ela produza frutos. A semente no campo é para produzir o pão, o alimento para a vida. A semente do Reino é para construir a paz, a fraternidade, a solidariedade, a harmonia entre as pessoas, tudo enraizado na prática da justiça para defender a vida.
Uma expressão já conhecida, e certamente inserida no discurso de Jesus, é aquela que diz “àquele que tem se dará em abundância; mas àquele que não tem, até o pouco que tem lhe será tirado”. Esta expressão indica o âmbito da sabedoria e do conhecimento dos mistérios do Reino de Deus. Então, os judeus que não acolhiam os ensinamentos de Jesus eram estes que estavam fechados à novidade trazida por Ele e continuavam ignorando que Deus estava encarnado no meio do seu povo. Os cristãos receberam a graça do batismo e são convidados a acolhê-la em abundância e produzir frutos para o Reino também em abundância.
Frei Valmir Ramos, OFM