LEITURAS: Os 6,3b-6 / Sl 49 / Rm 4,18-25 / Mt 9,9-13
Aos olhos dos fariseus, Jesus está provocando um escândalo ao sentar-se à mesa com os pecadores públicos. O contexto mostra que Jesus estava em Cafarnaum e não é claro se estava na casa de Mateus ou na casa que Ele passou a viver depois de iniciar a sua missão. Entrar na casa de um pecador público era tornar-se impuro; sentar-se à mesa com pecadores públicos era desqualificar a sua pessoa, pois no entender dos fariseus esses pecadores não mereciam misericórdia.
Contudo, a misericórdia de Deus supera qualquer pensamento ou critério humano. Ele chama aqueles que nós não chamaríamos: Abrão e Sara, idosos que hoje nossa sociedade e nosso sistema contaria como “inativos” e improdutivos; Mateus, um cobrador de impostos para o Império Romano e por isso, odiado pelos judeus e tido como pecador público por tirar o pão da boca dos pobres e muitas vezes fraudar os próprios conterrâneos. Jesus acolhe os pecadores, os desprezados pela sociedade, os marginalizados, os doentes, os considerados indignos pelos líderes religiosos, as mulheres, as prostitutas, os estrangeiros… e esta ação revela a universalidade da salvação de Deus.
Usar de misericórdia na Sagrada Escritura significa observar o mandamento do amor fraterno (cf Ex 22,26), praticar a justiça (cf Mq 6,8), socorrer o pobre, a viúva, o órfão (cf Is 58,6-11), praticar o perdão (cf Sir 27-28). Jesus revela a misericórdia de Deus sendo o “sumo sacerdote misericordioso” (Hb 2,17), e agindo com predileção pelos pobres, pecadores, pelas multidões que estavam “como ovelhas sem pastor”, pelos sofredores, estrangeiros e mulheres marginalizadas. São estes irmãos e irmãs que Ele acolhe de coração aberto. Oferecer um sacrifício a Deus sem amar estes irmãos e irmãs é ignorar a presença misericordiosa na vida das pessoas. Por isso, Jesus ensina na prática o que significa “prefiro a misericórdia ao sacrifício” revelado no profeta Oseias e citado no Evangelho.
Os cristãos de hoje são chamados como foi Mateus, primeiro para aprender sempre de novo que a misericórdia de Deus é para todos e não apenas para um grupo seleto; depois para crer com toda a esperança nAquele que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos para a nossa justificação, como diz São Paulo aos romanos na segunda leitura; e, finalmente, para agir em nome de Jesus acolhendo como Ele fez aos considerados indignos: pecadores, desprezados pela sociedade, marginalizados, doentes, mulheres discriminadas, estrangeiros… (cf. Documento de Aparecida, 391-394).
Frei Valmir Ramos, OFM