LEITURAS: Sf 2,3.12-13 / Sl 145 / 1Cor 1,26-31 / Mt 5,1-12a
São Mateus organiza muitos ensinamentos de Jesus em um grande discurso contido nos capítulos 5, 6 e 7 do seu Evangelho, o chamado “discurso da montanha”. No início vemos Jesus que está rodeado de uma multidão e sentando-se começa a ensinar. O gesto de Jesus revela que Ele é Mestre e, sentado como faziam os mestres, quer introduzir as pessoas na lógica de Deus. Aquela lógica que São Paulo expressa em sua Carta aos Coríntios: “Deus escolheu o que o mundo considera estúpido para confundir os sábios… o que para o mundo é sem importância e desprezado… para que ninguém possa gloriar-se diante dele”. São Paulo conhece bem a lógica dos seres humanos que pensam no poder de domínio e valorizam os poderosos deste mundo, que dão valor a coisas fúteis e deixam de valorizar o mais importante, que se vangloriam de suas proezas e não reconhecem a grandeza de Deus nem a própria miséria e fragilidade humana.
O profeta Sofonias fala da humildade e dos pobres. Exatamente o que os seus contemporâneos não queriam ouvir, pois cada um se reconhecia senhor de si e superior aos demais e todos pensavam que ter muitos bens, mesmo que custasse o suor e o sangue dos outros, era bênção de Deus. Por isso o apelo do profeta para que os seus ouvintes “buscassem a Deus” e tivessem a “humildade de praticar os preceitos de Deus e a justiça”. Era um tempo em que os ricos arrogantes exploravam os pobres.
As bem-aventuranças que Jesus indica são base para o caminho de santidade que permite entrar no Reino dos Céus. Bem diferentes dos valores criados pelos humanos, Jesus propõe modos de ser e de agir: “pobres em espírito”, “mansos”, “com fome e sede de justiça”, “misericordiosos”, “puros de coração”, “promovendo a paz”, “perseguidos por causa da justiça”, “fiéis na perseguição”. Sem apego às coisas materiais, humildes e agindo com o coração, os cristãos são chamados o percorrer este caminho com um comportamento sensível às necessidades dos outros, sem fechar-se no egoísmo, sem prepotência, sem desejo de vingança e, ao contrário, fiel a Deus e sentindo-se responsável pela vida em plenitude de todos os outros.
Frei Valmir Ramos, OFM