LEITURAS: Eclo 35,15b-17.20-22a / Sl 33 / 2Tm 4,6-8.16-18 / Lc 18,9-14
Os fariseus formavam um grupo religioso-político na Palestina. Eram rígidos em relação às normas religiosas, tinham atitude nacionalista, não aceitavam os estrangeiros e acreditavam que o Messias iria expulsar os romanos que dominavam o seu povo. Viviam uma religião individualista e se consideravam justos e perfeitos por seguir aparentemente a Lei de Moisés. Acontece que eles não eram coerentes com o mandamento do amor ao próximo. Por isso mesmo Jesus os chama de “fariseus hipócritas” (cf. Mt 23,13).
Na parábola de hoje narrada por São Lucas, Jesus mostra que o fariseu foi incoerente e arrogante, pois teve a pretensão de ser puro e santo diante de Deus. Na verdade, aquele fariseu estava preso às formalidades da religião e não vivia o espírito do amor de Deus; estava preocupado em mostrar-se perfeito aos olhos do mundo, mas não enxergava o seu próprio pecado. O publicano que tinha a função de cobrador de impostos, era tido como pecador público, pois os impostos cobrados tiravam o pão da boca dos pobres, iam para o império romano e o publicano ainda retinha uma parte para si.
Jesus finaliza a parábola dizendo que o publicano “voltou para casa justificado, mas o outro não”. Isto significa que o publicano teve uma atitude coerente e humilde diante de Deus “que não faz discriminação de pessoas” entre seus filhos e filhas. Por isso também o livro do Eclesiástico fala que “a prece dos humildes atravessa as nuvens” e chega ao coração de Deus, que é o “justo juiz” de que fala a segunda carta a Timóteo, atribuída a São Paulo. A justiça de Deus não olha as formalidades, mas a coerência com que cada filho e filha vive o amor. Os pecados são perdoados pela graça de Deus e pelo amor com que o pecador ama a Ele e aos irmãos. Isto vemos quando Jesus diz à mulher pecadora na casa do fariseu Simão: “os seus pecados foram perdoados” (cf. Lc 7,47-48).
Entre nós cristãos ainda existe muita incoerência, muito ritualismo sem vida e sem misericórdia. Hoje os cristãos precisam superar a tentação do farisaísmo, ser mais humildes, deixar o orgulho e a pretensão de ser mais que os outros; precisam olhar mais para o exemplo de Jesus que tudo fez para construir o Reino de Deus fundado no amor misericordioso, na justiça que “escuta as súplicas dos oprimidos, do órfão e da viúva”. Quem está humildemente a serviço do Reino receberá a “coroa da justiça”.
Frei Valmir Ramos, OFM