LEITURAS: Dt 5,12-15 / Sl 80 / 2Cor 4,6-11 / Mc 2,23-3,6
O evangelista Marcos narra como Jesus mostra aos fariseus que a vida está acima de todas as leis. Existe um movimento de crescimento no texto que parte de um gesto simples dos discípulos que estão com fome e colhem alguns grãos de trigo até a declaração máxima de Jesus: “o sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado”. É uma declaração de liberdade para fazer o bem. Os fariseus criticaram o gesto dos discípulos que transgrediam a lei ritual para atingir Jesus. Na sinagoga, num dia de sábado, Jesus mostra a força do amor e não da lei. A pergunta de Jesus indica a grandeza da dignidade dos filhos e filhas de Deus: “é permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal, salvar uma vida ou deixa-la morrer?”. Os seus adversários calaram-se.
A lei ritual surgiu a partir da experiência de exploração de uns pelos outros. Na primeira leitura vemos como nem os animais devem trabalhar no dia de sábado. O sentido da lei é que todos têm direito e precisam de descanso, e todo fiel precisa dedicar-se a Deus como Ele mesmo se empenha com cada filho e filha. O problema começou quando os fariseus fizeram uma “lei” tornar-se um jugo de escravidão, e na prática, apenas uma norma ritual sem espírito e sem coração.
Quando Jesus faz referência a Davi, um personagem referência para os judeus, Ele mostra como a necessidade diante da fome suprime a lei. De fato, nenhuma lei pode impedir que uma pessoa tenha alimento para sobreviver. Esta compreensão está presente na Igreja já no primeiro século quando, diante de muitas discussões, alguns dos santos defendiam que furtar o alimento para matar a fome não era um pecado. Esta é a linha de compreensão de Jesus, pois “fazer o bem” e “defender a vida” não pode estar submetido a uma lei. São Paulo na segunda leitura indica que nosso corpo é frágil, mas tem sua dignidade uma vez que a “vida de Jesus se manifesta em nossos corpos mortais”.
Hoje os cristãos enfrentam uma séria dificuldade em relação à observância do Domingo, dia do Senhor. A força do dinheiro parece anular o sentido e necessidade do descanso e da prática de uma religião. O mercado, insaciável, ambiciona o tempo “livre” dos consumidores e assume o lugar do templo. Os cristãos, por sua vez, ou por necessidade, ou por deixar-se levar por esta força, acabam por confundir a verdade que “o Domingo foi feito para o homem, e não o homem o Domingo”.
Frei Valmir Ramos, OFM