LEITURAS: Eclo 27,5-8 / Sl 91 / 1Cor 15,54-58 / Lc 6,39-45
O evangelista Lucas apresenta o discurso ou “sermão” de Jesus em uma planície, enquanto o evangelista Mateus fala de uma montanha. No texto do Evangelho deste Domingo, Jesus parece dirigir-se mais especificamente aos seus discípulos, pois a parábola iniciada no versículo 39 indica uma formação necessária àqueles que serão testemunhas da pessoa, das palavras e das obras do Mestre. No fundo é um apelo à coerência. Em Mateus (cf. Mt 15,14) Jesus diz que os fariseus são cegos guiando cegos. Os fariseus, conhecedores das escrituras, não produziam os frutos esperados, pois não vivenciavam a Palavra. Então entendemos porque Jesus pede coerência aos seus discípulos: eles devem ser como o Mestre e produzir frutos bons a partir da prática da boa doutrina aprendida.
Na primeira leitura vemos a insistência em observar os frutos que brotam do coração humano. O autor sugere que se ouça o que a pessoa diz para saber o que ela tem no coração, supondo coerência entre o que existe no coração e o que expõe pela palavra. Os fariseus são incoerentes, pois falam de uma doutrina sã e verdadeira, mas não vivem a justiça e a vontade de Deus, por isso Jesus os chama de hipócritas. Os discípulos têm uma missão importante que é igualar-se ao Mestre. Missão exigente, pois a boa obra por excelência de Jesus é dar a vida, vencer a morte e tudo aquilo que leva à morte. De fato, vemos na segunda leitura o canto de vitória sobre a morte, quando São Paulo retoma o profeta Isaías dizendo “a morte foi tragada pela vitória” de nosso Senhor.
O apelo de Jesus aos seus discípulos ainda ressoa em nossos dias, talvez mais ainda que naquele tempo. Hoje, a necessidade de coerência entre a palavra e as obras, a pregação e a vida, a doutrina e a ação concreta, é urgente e gritante. É a autoridade moral dos discípulos e discípulas de Jesus que fará a diferença na evangelização em todos os países do mundo. Não é possível sobreviver por muito tempo sem transparência e coerência de vida. Vivemos em tempos de muitas palavras, muitas versões dos mesmos fatos, muitas “notícias” falsas e muitas ideias apregoadas como únicas verdades. Os discípulos e discípulas de Jesus têm o Evangelho como fonte límpida onde podem beber da sabedoria do Mestre e retirar do grande tesouro as indicações para produzir bons frutos para os dias de hoje. Isto exigirá ação constante de defesa da vida, da justiça e da paz e, por outro lado, a corajosa denúncia das causas da morte, da injustiça e da violência.
Frei Valmir Ramos, OFM