Jesus é chamado de Mestre por um doutor de Lei. Por parte dos fariseus isto seria uma ironia em relação a Jesus que não era doutor da Lei, mas estava ensinando nas sinagogas e no templo de Jerusalém. No Evangelho deste Domingo o doutor lhe pergunta sobre “o maior mandamento da Lei”. Ele estava se referindo à Lei de Deus, partindo do decálogo que Deus revelou a Moisés. Em poucas palavras Jesus resume toda a Lei e os profetas: “Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento… e amarás o teu próximo como a ti mesmo”. O maior mandamento se resume no amor.
O amor na Sagrada Escritura é uma força que faz sair de si mesmo e agir para o bem do outro. São João diz que “Deus é amor” (cf 1Jo 4,8). A sua experiência de Deus que vive em comunhão com o Filho Jesus e o Espírito Santo e está presente no meio da comunidade agindo como Pai, Mãe, Pastor, Guia, Luz, Força e Vida, o fez chegar a esta definição, pois o mistério da ação gratuita de Deus pelos seus filhos e filhas não se explica com palavras humanas. De fato, na Sagrada Escritura, a aliança de Deus com o seu povo é um compromisso de amor em que Deus se empenha, cuida, zela por seu povo e espera uma resposta de gratidão e reconhecimento. Ao mesmo tempo, Deus espera o empenho de cada filho e filha com o seu semelhante. É o que vemos expresso na primeira leitura onde aparece o mandamento do amor ao próximo em atitude de “não prejudicar o estrangeiro, nem oprimir, nem maltratar, nem explorar com juros, nem confiscar o necessário do pobre”.
O amor a Deus está vinculado com o amor ao próximo, isto é viver a caridade. O amor a Deus deve ser incondicional, com todo o ser, “coração, alma e entendimento” repete Jesus (cf Dt 6,5) e o amor ao próximo como se ama “a si mesmo” (cf Lv 19,18). Os primeiros cristãos entenderam, mas tinham dificuldades como os fariseus. São João foi categórico escrevendo às comunidades: “quem não ama seu irmão, a quem vê, a Deus, a quem não vê, não poderá amar” (1Jo 4,20). Jesus faz entender a relação profunda entre os dois amores que, na prática não podem estar desvinculados para não cair na aridez do racionalismo ou da hipocrisia.
Os cristãos são amados por Deus, por Jesus que é a revelação do grande amor do Pai e que, por sua vez, viveu o amor até as últimas consequências abraçando a morte de cruz, e pelo Espírito Santo que é dom e força criadora de Deus. Cabe a cada um corresponder a este amor infinito de Deus amando-o e amando o próximo desinteressadamente como si mesmo. A caridade nos faz colocar-nos na pele dos sofredores deste mundo e agir impulsionados pelo amor gratuito.
Frei Valmir Ramos, OFM