A imagem do banquete era usada já no Antigo Testamento para indicar o “dia da salvação” ou, como vemos na primeira leitura, o dia em que Deus “enxugaria todas as lágrimas… faria desaparecer toda desonra sobre o povo”. Deste banquete participaria todos os povos que, no Evangelho deste Domingo, são aqueles que aceitaram o convite e se vestiram adequadamente, isto é, se revestiram das obras do Reino. O Reino é dom gratuito que Deus oferece aos seus filhos e filhas, contudo, cada um deve responder a esta graça com atitude de coração pobre, de criança que confia, de alguém de busca primeiro o Reino e a sua justiça e faz a vontade do Pai.
Alguns elementos se destacam na parábola de Jesus sobre o banquete: os primeiros convidados não responderam ao convite, pois estavam ocupados com seus compromissos e negócios, ou pior, maltrataram e mataram os mensageiros do Rei (esta é uma menção do que aconteceu com os profetas enviados por Deus e com os primeiros cristãos, perseguidos e mortos pelos judeus e pelos romanos); o Rei “enviou seus exércitos e incendiou a cidade” (menção à destruição de Jerusalém no ano 70 d.C.); todos os outros convidados, “bons e maus” encheram a sala (é menção aos que abraçaram a fé cristã, pobres, doentes e pecadores que se encontravam pelas margens da sociedade); “um homem que não estava vestido com o traje nupcial” (menção daqueles cristãos que pretendem o Reino sem praticar a justiça, o amor e a misericórdia).
O texto completo de Mateus se conclui com a máxima: “muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos”. Na Bíblia a eleição ou escolha é um ato gratuito de Deus para constituir um povo santo, consagrado a Ele (cf Dt 26,19). Este povo deveria colocar-se a serviço de Deus que o elegeu e o consagrou. Caso contrário, é possível ver uma “rejeição” no momento do julgamento: “não vos conheço” (cf Mt 25,12), pois os que tinham sido eleitos não praticaram a justiça do Reino e não acudiram aos necessitados.
Para nós cristãos de hoje ressoa o convite de Jesus para participarmos do seu banquete revestidos das obras do Reino. Para isto é preciso despojarmo-nos de qualquer privilégio, da arrogância, da pretensão de sermos justo, da sede de poder e do egoísmo que nos faz pensar somente em satisfazer os nossos próprios interesses.
Frei Valmir Ramos, OFM