LEITURAS: Hab 1,2-3;2,2-4 / Sl 94 / 2Tm 1,6-8 / Lc 17,5-10
A fé é dom e graça recebida de Deus. Na carta aos Hebreus lemos que “a fé é uma posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se veem” (Hb 11,1). Trata-se da capacidade de crer em uma realidade que não é material, que não se pode tocar com as mãos, mas pode-se vibrar com o espírito e saciar a esperança. Na Sagrada Escritura vemos como Deus se revelou a pessoas de fé e como pela fé chegou a salvação à toda a humanidade. A fé não exclui a ação humana, nem a inteligência, nem a ciência, mas precisa da abertura do coração e da obediência à vontade de Deus.
Os Apóstolos pediram a Jesus: “aumenta a nossa fé”. Jesus respondeu ao pedido indicando a dinamicidade da fé e usou a comparação do grão de mostarda. É bom lembrar que Jesus usa elementos conhecidos pelos seus ouvintes. Neste caso, uma semente pequena com uma força vital que a faz brotar e crescer como um pequeno arbusto. A fé então não precisa ser medida em tamanho, mas em vitalidade, isto é, precisa ser colocada em prática. Talvez por isso o autor da segunda carta a Timóteo, que talvez seja um discípulo de São Paulo, tenha insistido dizendo “exorto-te a reavivar a chama do dom de Deus”. A fé precisa ser mantida viva.
Jesus continua seu ensinamento aos Apóstolos mostrando a gratuidade da fé. Por isso usa a expressão “servos inúteis”. Os cristãos receberam o dom da fé e são chamados a vive-la na prática da caridade, servindo a Deus presente nas pessoas que sofrem e dedicando-se na construção do Reino de Deus. Na carta de São Tiago lemos que a fé sem as obras está morta em seu isolamento (cf. Tg 2,17). No pensamento de São Francisco de Assis, colocar a fé em prática através da caridade é restituir a Deus o que vem de Deus.
A concepção do profeta Habacuc quando diz que “o justo viverá por sua fé” é que a prática da fé mantém o fiel próximo de Deus e o faz praticar também a justiça. Não é possível dizer que tem fé e não defender e praticar a justiça para todos. Isto exige um olhar para a vida concreta das pessoas e da própria sociedade, pois uma sociedade cristã não pode admitir sistemas injustos que oprimem e ameaçam a vida e a dignidade das pessoas.
Frei Valmir Ramos, OFM