LEITURAS: Gn 2,18-24 / Sl 127 / Hb 2,9-11 / Mc 10,2-16
“Desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher”. Com estas palavras Jesus revela a compreensão mais profunda da dignidade da mulher. O contexto do Evangelho deste Domingo é a Judeia com a presença de muitas pessoas e dos fariseus. Estes querem desmoralizar Jesus e dizer que Ele não observa os mandamentos de Deus revelados a Moisés. Por isso querem colocá-lo à prova perguntando sobre o divórcio. Jesus vai à Sagrada Escritura, supondo que os fariseus conheciam bem, mas eram muito machistas e discriminavam as mulheres. Eles retrucam que Moisés permitiu dar carta de divórcio. Aí a resposta de Jesus é categórica: “foi por causa da dureza do vosso coração… no entanto, desde o começo da criação Deus os fez homem e mulher”. Jesus se refere ao livro do Gênese na primeira narrativa da criação (Gn 1,27) onde homem e mulher são imagem e semelhança de Deus.
Na primeira leitura vemos a segunda narrativa da criação do homem e da mulher em que Deus faz a mulher como “semelhante” ao homem. As palavras em hebraico parecem exprimir melhor o sentido: ‘ish (homem) e ‘ishah (mulher). Não quer dizer que um é superior ao outro, mas traz a ideia de complementariedade. Por isso o homem não está autorizado a agir como superior, considerar a mulher como uma posse ou objeto. Este era o pecado dos fariseus machistas que perguntavam a Jesus sobre a carta de divórcio. Eles não aceitavam que Jesus tratasse as mulheres e os homens da mesma maneira, fazendo-se irmão de todos, amando e indicando o caminho da salvação.
Na carta aos hebreus vemos uma declaração sublime do amor de Jesus pela humanidade a ponto de assumir a condição humana e abraçar a morte. O autor da carta fala que Ele está “coroado de glória e honra” e que “pela graça de Deus em favor de todos, Ele provou a morte”. Jesus mostra aos fariseus e aos discípulos de ontem e de hoje que as mulheres e crianças, ambas discriminadas e não contadas na sociedade e no templo, têm a mesma dignidade dos homens adultos. E mais, Jesus mostra que as crianças indicam que os caminhos de Deus passam pelos pequeninos, marginalizados e descartados e quem quiser entrar no Reino deve fazer-se pequeno e humilde.
Hoje todos os cristãos precisam avaliar o modo de ver e considerar os irmãos e irmãs, especialmente nos ambientes machistas em que homens e também mulheres pensam que elas podem sofrer abuso, violência, discriminação, serem tratadas como coisa a ser possuída, ficarem longe das decisões e por fim precisarem jornadas duplas de trabalho porque são mulheres.
É tempo da Igreja católica também repensar o papel das mulheres na evangelização, nos vários ministérios e nas esferas das decisões. De modo especial as mulheres consagradas precisam ser reconhecidas e assumir cargos de decisão, além de possibilidades de estudos superiores e formação teológica.
Frei Valmir Ramos, OFM