LEITURAS: Nm 11,25-29 / Sl 18 / Tg 5,1-6 / Mc 9,38-43.45.47-48
“Quem não é contra nós é a nosso favor”. Esta foi a resposta de Jesus quando os discípulos estavam enciumados e queriam que Ele proibisse a ação de alguém de fora do grupo deles. Não mudou nada da época da primeira leitura quando vemos Josué querendo proibir os profetas de agirem em nome de Deus. Moisés respondeu chamando a atenção para não ter ciúmes da ação de Deus, o que significa não tomar posse da ação e da vontade de Deus.
Os discípulos de Jesus queriam ser os patrões, os donos do Evangelho e do Reino. Queriam controlar a vontade de Deus e a vontade de Jesus. Assim como Jesus, Moisés abriu os horizontes para a compreensão de que não se pode aprisionar a vontade de Deus e de que todos os que fazem a sua vontade são autorizados a agir em seu nome.
Os discípulos de Jesus queriam ser os únicos depositários de sua missão que era instaurar o Reino de Deus, que é Reino de Justiça, de Paz e de Vida plena. Por sua vez, Jesus mostra que o critério para distinguir seus seguidores é ser a favor do Evangelho e a favor do próprio Jesus. No fundo, é a vivência do amor verdadeiro que distingue quem faz a vontade de Deus, quem é seguidor de Cristo, e não apenas o nome do grupo ou da Igreja.
Jesus ainda aproveita para orientar os seus seguidores a não escandalizarem nenhum “desses pequeninos que creem”. Escandalizar significa fazer distanciar do Evangelho, distanciar de Deus. Jesus faz referência a todos os responsáveis por anunciar o Evangelho e construir o Reino diante daqueles que seguem o Evangelho. Aí usa imagens fortes que dá impressão de haver necessidade de mutilação. Na verdade ele ensina que se deve deixar as ações que não condizem com a vontade de Deus: a mão que rouba ou que não partilha, o pé de conduz para caminhos injustos e não para perto dos sofredores, o olho que cobiça e não enxerga a imagem de Deus nos irmãos… Tudo chama à conversão para viver o verdadeiro amor que identifica os seguidores de Jesus.
Na carta de São Tiago, o autor faz duras críticas aos apegados à riqueza que não conseguem colocar a confiança em Deus e realizar a partilha, sequer pagar o salário justo aos trabalhadores e enxergar os que passam fome. O poder das riquezas seduzia e ainda seduz os cristãos afastando-os do verdadeiro amor a Deus e ao próximo.
Hoje os cristãos correm os mesmos riscos: o de pensarem que são donos do anúncio do Evangelho e de serem os únicos autorizados a falar em nome de Jesus e aquele de armazenarem coisas pensando que lhes darão segurança e salvação.
Frei Valmir Ramos, OFM