LEITURAS: Dt 4,1-2.6-8 / Sl 14 / Tg 1,17-18.21b-22.27 / Mc 7,1-8.14-15.21-23
Jesus inaugura uma nova forma de viver a religiosidade, superando o ritualismo e vivenciando a vontade do Pai na prática. O ritual da purificação (feita com aspersão de água) era uma maneira de livrar-se de tudo que impedia a pessoa de aproximar-se daquilo que era sagrado. Acontece que os fariseus e mestres da Lei queriam observar o rito de lavar-se apenas fisicamente, exteriormente. De fato, as leis de purificação surgiram a partir da classificação das coisas impuras, incluindo pessoas doentes, mulheres durante a menstruação e animais como o porco e o camelo. Daí surgiram as leis e os ritos de purificação a serem observados antes das orações e das refeições.
Jesus mostra aos fariseus que nada vale a purificação externa e sim aquela interna, com a superação do pecado e a vivência do amor para realizar a vontade do Pai. Os discípulos de Jesus estavam já superando aquele ritualismo. Enquanto os fariseus e mestres da Lei insistem na purificação, Jesus quer a realização do Reino de Deus através das obras concretas, como diz São Tiago na segunda leitura: “sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes”. E São Tiago continua: “a religião pura é assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não deixar-se contaminar pelo mundo”. Esta é a forma de guardar os mandamentos de Deus que vemos na primeira leitura, isto é, viver concretamente o amor para com as pessoas que mais sofrem. Órfãos e viúvas representam as pessoas mais vulneráveis, pois naquele tempo uma pessoa sem família estava fadada a morrer de fome. O “mundo” quer dizer o conjunto de falsos valores e injustiças praticadas por causa do egoísmo, da ganância, do ódio, da discriminação e da falta de respeito pelo outro.
Esta Palavra é atual e chega a todos os cristãos para que não vivam a sua fé em ritualismos estéreis. De fato, o que Jesus ensina é que a fé exige obras. Por isso, o mesmo São Tiago vai insistir nas obras para revelar a fé e a fidelidade dos cristãos. Jesus dá uma orientação clara em relação ao culto que precisa estar ligado à vida e à prática do amor. Aos fariseus ele cita a própria Sagrada Escritura dizendo “de nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos”. Isto também é atual para os cristãos, uma vez que é costume usar muita solenidade em certas celebrações mas sem importar-se e nem ouvir o grito dos “órfãos e viúvas” de hoje.
Frei Valmir Ramos, OFM