LEITURAS: Is 22,19-23 / Sl 137 / Rm 11,33-36 / Mt 16,13-20
O evangelista Mateus apresenta Jesus cumprindo a sua missão em terra estrangeira, ao Norte da Galileia. Ensinando os seus discípulos, dirige-lhes duas perguntas e uma proibição. Pergunta sobre a percepção do povo e dos discípulos quanto à sua identidade, mas depois proíbe os próprios discípulos de anunciá-la. O Evangelho deste Domingo é construído com base no texto de Marcos e com acréscimos de Mateus, especialmente na expressão “Filho do Deus vivo” e no que se refere ao ministério confiado a Pedro.
O povo vê que Jesus age e ensina como os profetas da tradição bíblica, não separando o amor a Deus e a prática da justiça, e insistindo na construção do Reino de Deus neste mundo. Jesus fala dos sinais dos tempos, é rigoroso com quem tem as “chaves” e não deixa o povo entrar, critica abertamente a hipocrisia religiosa e os que transformaram o templo em mercado. Os sinais, ou milagres e prodígios eram interpretados como ação de Deus através de Jesus, seu profeta. Contudo, Jesus está interessado na percepção dos discípulos e lhes faz a pergunta que ainda ressoa para todos os cristãos: “e vós, quem dizeis que eu sou?” Pedro é como porta-voz dos discípulos e faz a sua profissão de fé: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Jesus, porém, proíbe os discípulos de anunciá-lo como o Messias. Este é o chamado “segredo messiânico” que parece ser usado como estratégia para não confundir o povo que esperava um libertador guerreiro com poder para vencer os impérios humanos.
Na sequência, São Mateus apresenta Jesus mostrando a Pedro que Deus, e não um ser humano, tinha revelado a ele e, em seguida, lhe confere uma missão: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja … eu te darei as chaves do Reino dos Céus”. As expressões para indicar a autoridade de abrir e fechar tem paralelo na primeira leitura em que o profeta Isaías anuncia a destituição do administrador do palácio que não cuidava do povo. Pedro, no entanto, recebe as chaves do Reino dos céus que deveria beneficiar todos os povos, defendendo do mal e promovendo a vida, pois o Deus vivo garantiu a sua presença no meio do seu povo.
Cada cristão do nosso tempo é chamado a responder no silêncio a pergunta de Jesus: “e você, quem diz que eu sou?” e, ao mesmo tempo, a estar disposto a abraçar a missão que Ele destinar.
Frei Valmir Ramos, OFM