20º Domingo do Tempo Comum: “Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isto se cumpra!”

LEITURAS: Jr 38,4-6.8-10 / Sl 39 / Hb 12,1-4 / Lc 12,49-53

O evangelista Lucas é o único que narra a expressão de Jesus “Eu vim trazer o fogo à terra”. Na Sagrada Escritura o fogo é uma forma de manifestação de Deus, que se faz presente no diálogo com seus filhos e filhas ou como luz e, às vezes, está associado a formas contrárias como o vento e a água (sopro e nuvem). Uma característica do fogo amplamente usada nos profetas é a capacidade de purificar (cf Is 6,6; Jr 6,27-30). João Batista anunciou que Jesus batizaria com fogo (cf Mt 3,11), que parece indicar o momento do juízo final que começa acontecer com a vinda de Jesus. Ele está indo para Jerusalém, centro dos poderes religioso, econômico e político, e sabe que a perseguição e a morte o esperam. Podemos entender que esta expressão, de difícil interpretação, indica a sua consciência de que o tempo do julgamento desde mundo chegou.

Na sequência Jesus fala de seu batismo, isto é, sua imersão na morte que o levará à ressurreição, quando sua humanidade será plenamente glorificada e Ele enviará o Espírito Santo aos seus discípulos e discípulas. Daí que o batismo cristão será entendido como imersão na água e na morte e ressurreição de Jesus (cf Rm 6,3). Depois pergunta pedagogicamente: “Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra?” Jesus se refere à compreensão de paz que o Império Romano impunha e era abraçada por muitos mandatários judeus. Porém, a sua paz é fruto da justiça, do amor, da fraternidade, do compromisso de uns pelos outros, onde a vida tem primazia sobre as coisas. A sua proposta é a paz do Reino de Deus que deve ser construído, sem mentiras nem enganos. Daí a reação que Ele indica como divisão em casa. Os pontos de vista são diferentes, mas seguir o seu projeto exige um posicionamento e renúncias, pois não é possível ambiguidades no Reino de Deus.

Na primeira leitura vemos como o profeta Jeremias não iludia o povo como estava fazendo o rei Sedecias e os seus ministros. Ele queria que o povo soubesse que as estratégias do rei levariam o povo à miséria e à fome no lugar da prometida prosperidade em paz. No tempo de Jesus não era muito diferente, como também atualmente em muitos países.

Hoje os cristãos são chamados a abrir bem os olhos para ver os sinais da vontade de Deus e discernir diante dos acontecimentos o que vem de Deus e o que é tentativa de engano ou estratégia/jogo para iludir as pessoas. Todos os batizados em nome de Jesus, imersos na água e no fogo, receberam o Espírito. De “olhos fixos em Jesus”, nenhum cristão pode omitir-se na construção da paz verdadeira que brota do amor e da justiça.

Frei Valmir Ramos, OFM