LEITURAS: 2Rs 4,42-44 / Sl 144 / Ef 4,1-6 / Jo 6,1-15
O Evangelista João descreve a ação de Jesus como reveladora de sua procedência de Deus. É o que o povo diz depois de ter comido os poucos pães partilhados e ainda recolhido 12 cestos das sobras: “Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo”. Acontece que naquele momento o povo ainda não tinha percebido o sinal maior que era Jesus mais que um profeta. Por isso, quando querem levá-lo para fazê-lo rei, Jesus se retira sozinho para a montanha onde dialoga com o Pai.
No Domingo passado vimos como Jesus teve compaixão do povo que estava como rebanho sem pastor (cf Mc 6,3-34). Como Ele se compadece das pessoas sofredoras que foram ao seu encontro, Jesus começa a ensinar-lhes muitas coisas, pois eram pessoas que estavam sedentas de uma Palavra de vida, de alento, de esperança.
Neste Domingo vemos Jesus dando um passo a mais para que as pessoas sofredoras tenham vida e dá-lhes de comer. É a prova mais evidente de que Jesus não quer cuidar apenas da alma das pessoas, mas também de seus corpos para que tenham vida humanizada. O evangelista João descreve a cena em um lugar à beira do Mar da Galileia, longe de qualquer vilarejo. Sua pergunta pedagógica coloca em cena os seus discípulos que ainda não sabiam o que fazer. E são eles que vão organizar o povo e distribuir o pão partilhado.
A liturgia faz um paralelo com aquilo que fez o profeta Eliseu na primeira leitura quando ele diz ao seu servo “dá ‘os pães’ ao povo para que coma”. O profeta Eliseu reconhece que o povo está com fome e não admite que os pães ofertados fiquem somente para os privilegiados do culto. A grande diferença é que João apresenta Jesus realizando uma celebração do amor de Deus pelo seu povo e usa o termo “eucaristia” para a oração de ação de graças do Mestre. O espírito eucarístico não permite a exclusão de nenhum filho ou filha de Deus do direito essencial ao alimento. O caminho indicado por Jesus é a partilha, pois de fato, quando acontece a partilha sobra alimento.
Se no Brasil de hoje ainda existem tantos milhões de pessoas passando fome e outros tantos em situação de insegurança alimentar segundo dados oficiais, é porque ainda não tem partilha suficiente. Pior, é porque o egoísmo e a falta de compaixão permitem o desperdício de mais de 30% da produção de alimento por dia no Brasil (IBGE).
O autor da Carta aos efésios escreve que “há um só corpo e um só Espírito” entre os cristãos. Então nos perguntamos: por que nos dizemos cristãos se ainda falta repetir o gesto de Jesus Cristo e partilhar mais o pão?
Frei Valmir Ramos, OFM