LEITURAS: 1Rs 3,5.7-12 / Sl 118 / Rm 8,28-30 / Mt 13,44-52
São Mateus conclui o capítulo 13 narrando as parábolas sobre o Reino dos céus com a menção clara de um cristão discípulo que precisa discernir as “coisas novas”. É o ensinamento de Jesus sobre o “escriba instruído sobre o Reino dos Céus”. A instrução de Jesus fez os discípulos entenderem que o Reino tem um valor em si maior que todas as coisas valiosas deste mundo. O tesouro, a pérola preciosa, os peixes bons, tudo recebe um valor maior que o “resto” que acaba relativizado. Jesus mostra também que o Reino é dom gratuito e não se pode pretendê-lo por mérito. Por outro lado, mostra que existe um esforço daqueles que o procuram: o homem procurava o tesouro, o comerciante procurava a pérola preciosa e os pescadores lançavam a rede.
Na primeira leitura vemos uma interpretação da ação do rei Salomão que pede sabedoria para “governar o povo”. Na história de Israel vemos que Salomão herdou o trono de seu pai Davi e um reino com “um povo numeroso”. Isto significa que Davi conseguiu, com guerras e conquistas, ampliar o território e os domínios de seu reinado. Porém, não significa que Salomão fosse um temente a Deus, ao contrário, ele reinou como qualquer outro e executou o plano de Davi de construir um templo em Jerusalém. Estrategicamente ele dominou o povo através de uma ampla liberdade religiosa, o que não justificava a ostentação de sua corte mantida à custa do suor do povo e dos escravos.
De imediato se pode distinguir o Reino dos Céus dos reinos deste mundo, iniciando com a gratuidade. No Reino de Deus não existe hierarquia, pois todos são irmãos e irmãs que se dedicam uns aos outros para que todos tenham “vida em abundância”. Para o Reino de Deus nenhum irmão ou irmã precisa manter seus mandatários, basta empenhar-se na defesa da justiça, na construção da paz, na vivência da solidariedade, do amor fraterno e cuidar da vida humana e da criação.
São Paulo escreve aos Romanos e fala do chamado que Jesus faz aos discípulos. Ele está afirmando que Jesus chama os cristãos a viverem de tal forma que brilhe a retidão do próprio comportamento. Esta é a “justificação”: conformar toda a vida à justiça, por estar em comunhão com Jesus Cristo. Na prática, significa abraçar o Reino com todas as suas consequências como fez Jesus mesmo ao assumir nossa condição humana e cumprir a missão até a cruz. Ele não se fez Rei para governar ou comandar, mas para servir e dar a vida.
Frei Valmir Ramos, OFM