LEITURAS: Gn 18,1-10a / Sl 14 / Cl 1,24-28 / Lc 10,38-42
O evangelista São Lucas dá uma ênfase especial às mulheres, discriminadas e submetidas a um sistema machista que Jesus quebra e supera. Na passagem do Evangelho deste Domingo, Jesus continua sua viagem rumo a Jerusalém e é recebido na casa de Marta e Maria. No Evangelho de João estas são as irmãs de Lázaro e amigas de Jesus e seus discípulos (cf. Jo 11-12). Jesus surpreende Marta e os discípulos com a acolhida dada a Maria como discípula. De fato, ela “sentou-se aos pés do Senhor e escutava a sua palavra”. Na lei dos judeus não era permitido que as mulheres se tornassem discípulas de um mestre. Nem podiam estudar as Escrituras ou falar em público. No entanto, Jesus acolheu o desejo de Maria e a ensinava junto com outros discípulos.
A reação de Marta que estava também servindo, cuidando dos afazeres da casa, indica que ela ainda precisava entender a postura de Jesus em relação à dignidade da mulher. Maria, por sua vez, infringiu a regra dos homens judeus que pretendiam exclusividade do conhecimento dos mistérios de Deus. Ela queria ouvir diretamente de Jesus a mensagem deste “mistério escondido por séculos e gerações”, como nos traz a segunda leitura. Jesus a acolhou como discípula e ainda orientou Marta sobre o que Ele chama de “melhor parte”. Não significa que Maria não devia trabalhar, mas sim que na presença do Senhor ela devia dar ouvido à sua palavra por ser também destinatária da revelação de Deus e missionária e testemunha de Jesus.
A cena na casa de Marta e Maria reflete aquela da primeira leitura em que Abraão acolhe os viajantes desconhecidos. Abraão os vê e pede que façam uma parada em sua casa, sua tenda; prepara uma festa no deserto, com água, bezerro assado, leite e coalhada. De fato, o capítulo 18 do livro do Gêneses é uma narração da hospitalidade de um povo que acredita em Deus e que enxerga a presença de Deus nas pessoas; ao mesmo tempo, da acolhida, da proteção e do acompanhamento de Deus que nunca abandona o seu povo. Marta hospeda Jesus já como um amigo da família. O passo que ela ainda precisa dar é o de reconhecer Jesus como o Salvador, por isso, precisa dedicar tempo a Ele e à sua palavra.
Para os cristãos e para a Igreja de hoje é necessário superar a tendência de considerar a mulher como inferior na missão e nas decisões. São passados 2 mil anos e a mulher ainda não tem o seu direito respeitado de poder escutar a palavra do Senhor e de ser testemunha desta palavra no mundo atual; de estudar Teologia e de ajudar a decidir os rumos da Igreja na missão de construir o Reino de Deus. O Papa Francisco está dando os primeiros passos.
Frei Valmir Ramos, OFM