14º Domingo do Tempo Comum: “Um profeta só não é estimado em sua pátria, entre seus parentes e familiares!”

LEITURAS: Ez 2,2-5 / Sl 122 / 2Cor 12,7-10 / Mc 6,1-6

“De onde lhe vem esta sabedoria?” perguntam os ouvintes da sinagoga. Jesus vai se revelando como “sabedoria” de Deus. Na Sagrada Escritura a sabedoria é a própria ação de Deus, e Jesus será reconhecido por São Paulo como “sabedoria de Deus” (cf 1Cor 1,24.30). Portanto, o que os ouvintes da sinagoga presenciavam era bem mais que um homem com grandes conhecimentos. Eles ouviam a Sabedoria de Deus se revelando de modo simples. Isto nem eles, nem os mestres da Lei esperavam, pois na mentalidade deles Deus não poderia falar através de um carpinteiro, morador da periferia do mundo.

A atitude dos conterrâneos de Jesus é a mesma do tempo do profeta Ezequiel. Deus estava falando através do profeta, mas o povo tinha a cabeça e o coração endurecidos. A palavra hebraica que traduzimos como “profeta” quer dizer aquele que fala no lugar de Deus, o porta voz de Deus. Ezequiel anunciou o que lhe foi pedido, mas poucos o escutaram. Jesus foi enviado pelo Pai e estava anunciando o Reino, mas eles não acreditavam e ainda se escandalizavam de Jesus. Contudo, Jesus continuava pregando em sua terra e nos povoados, pois a missão continua e Ele sabe que o missionário precisa semear mesmo que encontre resistência e rechaço.

São Paulo na segunda leitura apresenta bem as adversidades que um missionário de Deus enfrenta: “injúrias, necessidades, perseguições, angústias”, mas tudo com a presença do Ressuscitado que envia o missionário e o acompanha como sua força. Aí entendemos porque São Paulo diz “na fraqueza é que sou forte”. É a presença constante da Sabedoria divina que faz a missão ser eficaz e produzir frutos mesmo na adversidade.

Deus sempre fala ao seu povo através dos profetas e profetizas. Por isso, os cristãos precisam ter ouvidos atentos para perceber a mensagem de Deus que chega de muitas maneiras, especialmente através da voz de pessoas simples, iletradas, pobres, sofredoras, às vezes marginalizadas e discriminadas. Não é de hoje que a Igreja da América Latina reconhece que “os pobres são nossos mestres”. De fato, quando pensamos que Deus fala apenas através dos doutores, ou esperamos uma resposta de Deus, nos surpreendemos com sua mensagem vinda de pessoas simples e profundamente unidas ao seu projeto de vida em abundância para todos. Cabe lembrar como Deus falou através de São Francisco de Assis, voz que continua ecoando em todo o mundo que tem sede de fraternidade e de paz.

Frei Valmir Ramos, OFM