14º Domingo do Tempo Comum: “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos!”

LEITURAS: Is 66,10-14 / Sl 65 / Gl 6,14-18 / Lc 10,1-12.17-20

O Evangelho de Lucas nos apresenta o envio dos 72 discípulos de Jesus para anunciarem que “o Reino de Deus está próximo”. O número de discípulos é simbólico e parece que o escrito primitivo de São Lucas falava de 70 discípulos. De qualquer maneira, a recomendação de Jesus que diz “pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita” é uma indicação de que o anúncio do Reino é urgente e para todos: todos os discípulos têm a missão de anunciá-lo e todos os povos são destinatários do Reino.

No Evangelho inteiro de Lucas, Jesus está a caminho de Jerusalém, centro dos poderes religioso, econômico e político. Perseguição e morte o esperam em Jerusalém. Os discípulos, enviados “como cordeiros para o meio de lobos”, devem estar livres das amarras deste mundo. Daí a recomendação de Jesus: “não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias”. Sem carregar nada e sem ter que defender bens materiais, os discípulos estariam completamente disponíveis para anunciarem o Reino de paz e justiça por onde fossem. A liberdade dos discípulos também será em relação às estruturas de poder, pois a missão de anunciar o Reino não pode ser submetida a esquemas de injustiças e ser aprisionada sob a cobiça de privilégios. Jesus mesmo não levou nada consigo e não aceitou nenhum privilégio. Proclamou o Reino, denunciou a injustiça, apontou o erro, derrubou a discriminação e o preconceito, mostrou o caminho do amor, da justiça, da paz e deu vida em abundância a quem Ele encontrou.

Deus mesmo quer seus filhos e filhas vivendo na paz abundante, correndo como um rio, como vemos na primeira leitura que revela o próprio Deus cuidando do seu povo como uma mãe. São Paulo também anuncia um novo tempo de paz e misericórdia, pois Jesus Cristo é o rei da paz que veio instaurar o Reino do Pai.

Os discípulos da Igreja de São Lucas e os cristãos de hoje são enviados para fazerem o mesmo em liberdade para viver o Evangelho, seguir Jesus Cristo e construir o Reino de Deus no mundo. Nenhum poder deveria amedrontá-los e nenhuma cobiça de privilégio deveria impedir o anúncio profético do Reino. O silêncio não pode reinar onde as injustiças prevalecem, onde as falsas verdades são difundidas e as pessoas são enganadas por aqueles que são como lobos que as exploram de muitas maneiras. A voz dos cristãos também precisa ser ouvida onde a Casa Comum é destruída devido à falta de amor e solidariedade, à ganância e à indiferença em relação às gerações futuras.

Frei Valmir Ramos, OFM