LEITURAS: Jó 38,1.8-11 / Sl 106 / 2Cor 5,14-17 / Mc 4,35-41
Depois de uma série de parábolas sobre o Reino de Deus, São Marcos apresenta Jesus despedindo as multidões e indo para outro lugar. A narração do Evangelho mostra que Jesus vai revelando a sua natureza divina aos seus discípulos através dos sinais de poder sobre a morte. Na Sagrada Escritura o mar é tido como uma grande ameaça contra a vida. É fácil compreender pela fragilidade das barcas daquele tempo. Na primeira leitura vemos o diálogo de Jó, um personagem criado pela sabedoria dos religiosos hebreus para apresentar um homem de fé. As palavras colocadas na boca de Deus mostram que Ele é o criador de todas as coisas e Ele tem o domínio sobre o que as pessoas pensam ser tempestade. Jó faz um caminho de aprofundamento da fé e consegue entender que Deus está presente na vida das pessoas e nos acontecimentos do mundo com sua sabedoria e poder.
No Evangelho Jesus realiza um sinal que revela a presença de Deus que salva. Como Jó não percebia a presença de Deus no meio da tempestade, também os discípulos pensavam que Jesus os teria abandonado e perguntam: “Mestre, não Te importas que pereçamos?”. É a única vez que os evangelistas narram que Jesus estava dormindo… Ele “fala” ao vento e “comanda” o mar. Esta é uma cena que revela Deus dominando o caos primitivo colocando limites no mar (cf Gn 1,9). É como uma força de vida que vence as ameaças de morte. Chegada a calmaria, Jesus se volta para os discípulos e vincula o medo à falta de fé. Como Jó, os discípulos também estavam percorrendo um caminho de crescimento na fé. Vendo o que Jesus realizou se enchem de temor e se perguntam sobre a identidade de Jesus: “quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” Talvez os discípulos ainda estivessem no âmbito do conhecimento de Jesus segundo a carne, quer dizer, conheciam o homem Jesus, filho do carpinteiro. A origem divina de Jesus ainda não cabe na cabeça deles. Só depois da sua morte e ressurreição é que eles vão compreender e perceber a força do Espírito agindo neles, pois serão “criaturas novas” como diz São Paulo na segunda leitura.
Para os cristãos de hoje a mensagem do Evangelho é clara: diante de qualquer “tempestade” ou ameaça contra a vida, primeiro devem fortalecer a fé em Deus que nunca nos abandona; depois devem empenhar-se fortemente na missão de serem testemunhas da presença do “amor de Cristo que nos impele” rumo aos sofredores, desesperançados, oprimidos e desorientados pelas inúmeras ameaças e violências sofridas. Jesus ressuscitado, que prometeu acompanhar os seus discípulos e discípulas até o fim mundo, estará sempre presente e será a força daqueles que crerem e não se omitirem diante das dificuldades e ameaças.
Frei Valmir Ramos, OFM
Acompanhe também a reflexão da série: “Luz do meu caminho”