LEITURAS: Gn 3,9-15 / Sl 32 / 2Cor 4,13-5,1 / Mc 3,20-35
No tempo de Jesus a doença e os males que atingiam as pessoas eram atribuídos à ação de Satanás e seus súditos. No Antigo Testamento aconteceu como que uma “evolução” da demonologia, isto é, a compreensão de que todas as forças obscuras e todos os males provinham dos demônios, foi passando por uma sistematização que compreendia os demônios como anjos decaídos que colaboravam com Satanás contra os planos de Deus. A palavra Satanás em hebraico significa “adversário” e diabo em grego “caluniador”. Jesus é vencedor daquele que pretendia destruir os projetos de Deus e ser o “poderoso” no mundo. Todo poder foi dado a Jesus que tornou-se o Salvador e reina com o Pai e o Espírito Santo.
São Marcos narra como Jesus estava pregando a Boa Nova que até os seus familiares pensavam que estivesse “fora de si”. A multidão que o seguia estava sedenta da Palavra, da verdade, da libertação de todas as situações de opressão e mentiras. É neste contexto que vem a acusação de que ele usa o poder do “príncipe dos demônios” para expulsar os demônios, quer dizer, todos os males das pessoas. A parábola que Jesus usa é simples e direta: “um reino que divide-se contra si mesmo não poderá manter-se”. A verdade que os mestres da Lei não queriam enxergar é que Jesus estava cheio do Espírito Santo e agia em nome e pelo poder do Pai. Por isso, Jesus fala do pecado contra o Espírito Santo que não será perdoado. De fato, a revelação de Deus é que Ele é misericordioso e perdoa todos os pecados quando seus filhos e filhas se arrependem. Assim vemos como foi o pecado de Adão e Eva que, enganados pela serpente, queriam ser deuses. Jesus mesmo pediu ao Pai que perdoasse os seus assassinos que o colocaram na cruz. Mas o pecado contra o Espírito Santo é calculado, preparado, maquinado com inteligência para rechaçar o projeto de Deus.
Hoje existe ainda o risco de querer virar as costas para a “vontade de Deus”. É por isso que muitos missionários evangelizadores, construtores do Reino de Deus, defensores da vida e anunciadores do Evangelho são caluniados, às vezes perseguidos e mortos. É como se as forças do mal entranhadas na sociedade quisessem derrotar o Espírito Santo.
Cada cristão precisa recordar-se que é da família de Jesus, que é chamado a fazer a “vontade de Deus” para “ser seu irmão, sua irmã, sua mãe”. São Paulo escreve aos coríntios animando-os para renovar o interior a cada dia, mesmo se o “homem exterior fosse arruinando-se”. Isto significa que Deus conta com cada um para continuar construindo o seu Reino de vida e verdade neste mundo.
Frei Valmir Ramos, OFM