Fraternidade Custodial desenvolve projeto de mini usinas de energia solar

Imagem aérea do Convento Santa Maria dos Anjos de Franca/SP

Acolhendo o clamor da Encíclica Laudato Si, a Custódia Franciscana do Sagrado Coração de Jesus está desenvolvendo um projeto que incide no nosso estilo de vida: a criação de mini usinas de energia solar em nossa Custódia e nas paróquias e obras sociais a ela confiadas. Esse compromisso ecológico já alcança números de grande relevância: 82% das fraternidades são autossustentáveis em relação ao consumo de energia, produzindo 179.904 kwh por ano. Isso significa em termos de redução de emissões de CO2, um total de total de 18,349 toneladas de CO2 por ano.

Como é feito o cálculo de redução de emissão de CO2 ? 

A ferramenta para cálculo do fator de emissão para um sistema elétrico (Tool to calculate the emission factor for an electricity system) é constantemente atualizada, estando atualmente em sua versão 07 [1] Assim, deve-se sempre acessar a última versão disponibilizada da ferramenta no site da UNFCCC [2]. O calculo é feito a partir da diminuição de carbono em função do perfil das novas usinas construídas nos últimos anos. Se começarmos a pensar que uma geração limpa distribuída vai entrar e vai substituir a construção de novos empreendimentos, então o CO2 calculado tem de ser em função das características desses novos empreendimentos. Se os novos empreendimentos forem mais poluidores, aí a redução de emissão de carbono será maior. Se os novos empreendimentos forem menos poluidores, mais limpos, então a redução de carbono é menor.

O Cálculo do fator de emissão, que fizemos acima [3], tem como referencia aos dados da geração de energia elétrica no Sistema Interligado Nacional do Brasil – Ano Base 2020[4].

Como é a nossa geração?

A Custodia possui 11 fraternidades (incluindo a fraternidade que trabalha com imigrantes, na Itália, em Capaccio). Foram instaladas 6 usinas de energia fotovoltaica dentro do território da Custódia. Duas são diretamente ligadas à Custódia e outras duas são iniciativas nossas, em paróquias e  duas em obras sociais.

A usina instalada na cidade de Uberlândia, no estado de Minas Gerais, na Fraternidade Nossa Senhora de Fátima produz uma média de 5.150,00 KWh. Atende a demanda de 3 casas dos frades (cidades Uberlândia, Araguari e Uberaba), bem como 3 igrejas, capelas, salões, salas e cozinhas das respectivas paróquias, bem como um mosteiro das Irmãs Clarissas.

Outra usina está instalada no município de Franca, no estado de São Paulo, no Convento Santa Maria dos Anjos. Tem capacidade de gerar uma média mensal de 3.192,00 KWh. Atende o convento/casa de postulando e as casas de formação do aspirantado, em Olímpia, e a do pós-missão em Garça, todas no estado de São Paulo.

A usina em Marília, no estado de São Paulo, nas dependências da paróquia Nossa Senhora de Fátima, tem capacidade média de 2.050,00 KWh. Atende a Igreja, uma capela e o convento de formação pós-noviciado.

A usina na Paróquia Nossa Senhora de Aparecida, em Olímpia, no estado de São Paulo, gera em média 3.000,00 KWh. Atende a igreja, salão, salas, cozinha, e mais 4 capelas.

Outras duas mini usinas, sendo uma no Patronato Juvenil Garcence, em Garça no estado de São Paulo, gerando em média 518,00 KWh, e outra no Educandário Santo Antônio, em Bebedouro no estado de São Paulo, gerando uma média de 1.600,00 KWh.

Como funciona esse sistema?

Como no Brasil o consumidor pode gerar a própria energia elétrica, seguimos alguns critérios. Instalamos sistemas fotovoltaicos no telhado de algumas de nossas casas – painéis que convertem a energia da luz do Sol em energia elétrica. Com isso criamos mini usinas ou unidades geradoras de energia.

Isso permite produzir a própria energia e conectá-la à rede de algum fornecedor ou distribuidor local ou regional. Através deste sistema, ao produzir mais energia do que o necessário para o consumo, se acumula créditos na conta de energia. Esses podem ser utilizados em outros endereços previamente cadastradas dentro da mesma área de concessão da distribuidora regional. O uso desses créditos de energia vem caracterizados como autoconsumo remoto, geração compartilhada ou integrante de atividades de múltiplas unidades consumidoras (condomínios). Assim podemos fazer com que a energia produzida em algumas de nossas casas, seja transformada em credito, que pode ser compensado por outras casas e estruturas nossas.

A realidade energética do Brasil e os desafios da Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC)

 O Brasil, atualmente, tem 83% de sua matriz elétrica originada de fontes renováveis, sendo que 63% é de origem hidrelétrica. Contudo, os reservatórios das hidrelétricas produzem importantes impactos nos principais ecossistemas associados a bacias hidrográficas.

Trata-se sim de uma fonte renovável, mas na área ambiental o principal impacto costuma ser o alagamento de importantes áreas florestais e o desaparecimento do habitat dos animais. Muitas vezes a hidrelétrica é construída em áreas onde se concentram os últimos remanescentes florestais da região, desmatando e inundando espécies ameaçadas de extinção. Os impactos sociais são vários, como o deslocamento forçado de milhares de pessoas e os prejuízos econômicos causados a elas. São inúmeros os casos de comunidades, povos indígenas e moradores de regiões onde são instaladas as barragens hidrelétricas que tiveram suas vidas e meios de sobrevivência profundamente afetados.

Isso sem contar com períodos de crise hídrica, quando se acionam as termo elétricas, a combustíveis fósseis (carvão, petróleo e derivados), gerando gases de efeito estufa.

Sendo o Brasil um dos países que recebe uma incidência de raios solares superior a 3000 horas de brilho de sol por ano, o país conta com uma das maiores taxas de irradiação solar. Mesmo com isso, o Brasil possui uma das tarifas energéticas mais caras do mundo e, sobre ela, ainda incidem altas cargas tributárias.

Frei Rodrigo Péret, OFM / Frei João Paulo Gabriel, OFM / Frei Eduardo Schiehl, OFM

JPIC – Custódia Franciscana do Sagrado Coração de Jesus


[1] https://cdm.unfccc.int/methodologies/PAmethodologies/tools/am-tool-07-v7.0.pdf

[2] https://cdm.unfccc.int/methodologies/PAmethodologies/tools/  

[3] Pegamos os 13.910 Kwh por mês, multiplicamos por 12 meses, obtivemos assim a energia por ano de 179.904 kwh por ano. Em seguida dividimos por mil, para obter ter megawatt hora ano, ou seja 179,90 MWh/ano. Aí multiplicamos 179,90 MWh / ano por 0,1020t CO2 (o fator de tonelada de carbono economia por MWh),  e obtivemos o total de 18,349 toneladas de CO2 por ano. Isso é o que reduzindo de emissão de CO2 por ano, com esse nosso sistema.

[4] Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações