Solenidade do Sagrado Coração de Jesus: “[…] aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração!”

LEITURAS: Dt 7,6-11 / Sl 102 / 1Jo 4,7-16  / Mt 11,25-30

No Evangelho desta solenidade do Sagrado Coração, São Mateus apresenta uma oração de agradecimento de Jesus ao Pai, pois Ele revelou as suas verdades aos pequeninos. Para Jesus os “pequeninos” são todos os pobres, os analfabetos de seu tempo, os marginalizados pelos escribas, fariseus e saduceus, os considerados pecadores, os doentes, os portadores de necessidades especiais, enfim todos os que, mesmo sem a “ciência” dos fariseus, compreendiam que Deus estava no meio deles.

Sendo Deus presente no meio do seu povo, Jesus convida: “vinde a mim todos que estais cansados e oprimidos” e “encontrareis descanso para as vossas almas”. São Mateus é o único evangelista que traz este convite de Jesus para “tomar o seu jugo e aprender dEle”. De fato, a sabedoria da escola farisaica era tida como um jugo, quer dizer, Jesus está comparando a sabedoria dos fariseus, que aprenderam na escola, mas fizeram dela um peso para os outros, e a sabedoria de Deus que liberta, pois é “manso e humilde de coração”.  O “jugo suave e a carga leve” é a Palavra de Jesus que aponta um caminho de vida e liberdade baseado no amor a Deus e aos irmãos.

A presença de Jesus no meio das pessoas pobres e doentes, marginalizadas, desprezadas pelos líderes religiosos que também instigavam outros a desprezá-las, faz os “pequeninos” entenderem que Ele é o “Filho unigênito enviado ao mundo”. E São João afirma ainda: “Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós”. Deus está sempre presente em nossa história como esteve na história do povo hebreu. Por isso vemos na primeira leitura o testemunho de que Deus amou o seu povo, libertou-o da escravidão do Egito e “é fiel à sua aliança e à sua benevolência”.

São Francisco de Assis tinha uma espiritualidade e devoção profunda à humanidade de Cristo, particularmente aos mistérios da Paixão. Daí a sua contemplação dos sofrimentos e das cinco chagas de Cristo, especialmente da chaga do lado, que passou ao próprio Coração de Cristo, como símbolo do amor e fonte de toda a graça. Para o franciscano são Boaventura, esse amor deve levar a uma verdadeira comunhão de corações, com Cristo e os irmãos. Ele afirma: “O Coração de nosso Senhor foi transpassado por uma lança para que através da ferida visível possamos ver a ferida invisível do seu amor”.

Ainda no século XIII, os frades franciscanos fizeram do Coração de Cristo objeto de meditação e pregação, de estudo e ilustração ascético-doutrinal, de invocação e culto, chegando a ver no Coração de Cristo a síntese e a verdadeira meta de toda a sua espiritualidade ligada ao divino Redentor. A finalidade da devoção ao Coração de Jesus Cristo era entendida como resposta de amor ao infinito amor do Senhor pela humanidade. Esta devoção foi autorizada aos franciscanos por São Boaventura pelos anos 1250.

Frei Valmir Ramos, OFM