Solenidade de Nossa Sra. Aparecida: “Fazei o que ele vos disser!”

LEITURAS: Est 5,1-2; 7,2-3 / Sl 44 / Ap 12,1.5.13.15-16 / Jo 2,1-11

O Evangelho segundo João é o único texto que traz o “primeiro sinal” que Jesus realizou no meio do seu povo na Galileia. Então chegou a hora da revelação. De fato, os “sinais” no Evangelho de João revelam que Jesus é o Messias, o Deus que não abandona o seu povo a quem ama como um esposo. O banquete de casamento é sinal dos tempos messiânicos e, para o cristianismo, Jesus é o esposo (cf. Mt 25,1-13). O vinho é símbolo dos tempos messiânicos (cf. Mc 2,22; Mt 26,29). A água era destinada à purificação ritual, mas com a vinda de Jesus desaparecem os ritos judeus. A purificação deve ser interior.

João apresenta Jesus participando de uma festa de casamento. Ele se revela ao seu povo de maneira simples e na vida cotidiana. Ele mesmo é o esposo que agora está no meio do povo amado por Deus e sua ação revela seu empenho de amor, de ternura e misericórdia. O ritualismo judaico estava superado e, com a chegada do tempo messiânico, já anunciado por João Batista, é necessária uma nova atitude que corresponda ao amor esponsal de Deus, purificando o interior dos sentimentos de egoísmo, de desejo de vingança, de violência, de discriminação, de preconceito e das injustiças contra irmãos e irmãs.

Maria foi intercessora, pedindo a Jesus uma ação diante da necessidade de uma família pobre. Jesus, por sua vez, a chama “mulher”, indicando que o nível carnal foi superado pela fé na pessoa dele mesmo (cf. Jo 19,26) como Messias. Ele diz que sua “hora ainda não chegou”, mas, obedecendo a mãe, aceitou antecipar a “alegria messiânica” com o primeiro “sinal”; o caminho da revelação tornou-se irreversível.

A primeira leitura apresenta Ester também como intercessora. A comunidade judaica estava

espalhada pelo mundo e seu território dominado pelas potências do Oriente Médio (século V a.C.). O livro de Ester faz uma narrativa de luta por condições de sobrevivência do povo. Ester é apresentada como uma rainha que pensa no seu povo e arrisca a própria vida para salvá-lo, influenciando o poder para ser mais justo e devolver ao povo a esperança de viver.

Na segunda leitura vemos uma imagem da Igreja na figura de uma mulher. A liturgia faz a interpretação como sendo Maria, aquela que está grávida e é ameaçada pelo dragão. O autor do livro do Apocalipse, porém, fala da Igreja que é perseguida, carrega consigo Jesus ressuscitado, anuncia o seu Evangelho, o Reino de Deus, mas o Império Romano quer destrui-la. O dragão é este Império que não permite o culto ao Deus verdadeiro. É legítimo atribuir esta leitura à solenidade de Maria, mãe de Jesus e mãe de Igreja, pois é aquela que trouxe ao mundo Jesus, o Salvador. Ela é a portadora do Deus verdadeiro que não admite a opressão do Império Romano e de nenhum outro império ou imperador.

Para os cristãos de hoje, a atuação e revelação de Jesus nas bodas de Caná significa que é tempo de abertura para acolher o Messias com o seu projeto de salvação, assim como o fez Maria. É tempo de abraçar com alegria o Deus que se revela como esposo, amigo, cheio de ternura e misericórdia para com o seu povo e de prestar atenção às necessidades daqueles que sofrem por falta de alimento, de remédio, de casa, de terra, de emprego e de qualquer outro elemento que proporcione vida digna de filhos e filhas de Deus. Nossa Senhora Aparecida apareceu solidária com os escravizados de ontem e com os marginalizados de hoje.

Frei Valmir Ramos, OFM