LEITURAS: Nm 6,22-27 / Sl 66 / Gl 4,4-7 / Lc 2,16-21
São Paulo dá testemunho de Jesus Cristo como sendo o Salvador que nasceu de uma mulher do seu povo. Esta afirmação é para dizer que Jesus é verdadeiro homem, que não é um mito ou um espírito que ficou visível aos seus discípulos e às multidões. Na sequência da carta, o autor diz que nasceu “sujeito à Lei”, quer dizer, tão humano que não se esquivou de observar as prescrições religiosas de seu povo. A jovem que acreditou na Palavra de Deus é uma mulher de fé e cumpre os preceitos religiosos, por isso leva Jesus ao templo, apresenta-o e cumpre os ritos necessários.
São Lucas narra o momento em que os pastores encontram Maria, José e o “recém-nascido deitado na manjedoura”. Para os pastores, homens simples e certamente analfabetos, Deus revela a notícia da chegada do Salvador, que entra na história da humanidade silenciosamente, de maneira humilde, no seio de uma família pobre e na periferia do mundo. Este nascimento acontece em um contexto histórico bem concreto e conhecido. A cena construída por São Lucas mostra os pastores que chegam aonde estão Maria e José e veem o recém-nascido. Não se trata de uma visão em sonho ou em transe, mas uma realidade muito concreta: lá está uma mulher que deu à luz um filho e lá está o que nasceu como nascem todos os seres humanos. Os pastores glorificam a Deus pelo que lhes foi revelado. Ainda não sabem bem o que será daquele menino da manjedoura, mas retornam ao trabalho transformados.
Também Maria “guardava todos estes fatos e meditava sobre eles em seu coração”. Ela é mulher de fé, mas percorre um caminho de discipulado para compreender que aquele Menino deve cumprir o projeto do Pai. O que é traduzido como “fatos” que Maria guardava e meditava é um termo que corresponde a “palavra”, os “acontecimentos”, isto é, aquilo que em hebraico faz referência a palavra/ação realizada por Deus. Maria encontra-se imersa em um processo de amadurecimento de sua fé que alcançará o cume ao celebrar a ressurreição do filho Jesus.
As celebrações natalinas devem transformar os cristãos num processo constante de amadurecimento da fé e do compromisso com o Reino de Deus. É sempre um risco celebrarmos e pedirmos o nascimento de Jesus em todos os corações, em todas as famílias, e nos esquecermos que Ele nasceu realmente como nascem todos os bebês e entrou na história concreta da humanidade, ensinou um novo caminho da prática do amor altruísta, agiu construindo o Reino de Deus, foi perseguido, morto e ressuscitou vencendo a morte. Hoje, todos são chamados a reconhecê-lo no rosto dos sofredores, especialmente das vítimas da miséria, da violência, dos abusos e da indiferença.
Frei Valmir Ramos, OFM