Mensagem do Ministro Geral e três verbos – aproximar, escutar e discernir – norteiam o dia dos Irmãos Leigos

São Paulo (SP) – A carta do Ministro Geral, Frei Massimo Fusarelli, nesta quarta-feira (08/11) aos Irmãos Leigos, reunidos no 1º Congresso da Conferência Franciscana do Brasil e Cone Sul, lembrou que este encontro é o “primeiro daqueles que o Capítulo Geral de 2021 solicitou para toda a Ordem dos Frades Menores”. O Ministro Geral agradeceu do “fundo do coração” por abrirem o caminho, que “não é fácil para todos os irmãos do mundo aceitarem e promoverem. No entanto, ele é necessário!” (veja a íntegra abaixo).

No Salão São Dâmaso, no Convento São Francisco, no centro de São Paulo, o assessor deste evento, Frei Vanildo Luiz Zugno, OFMCap, levou os frades a partilharem a experiência de encontro que fizeram com os irmãos migrantes, refugiados, moradores de rua, crianças e idosos do Serviço Franciscano de Solidariedade. Mas o ponto forte do dia foi a reflexão sobre sinodalidade, a partir de três verbos que foram colocados pelo Papa Francisco na homilia da abertura do Sínodo. “Ele nos convida a aproximar, escutar e discernir. Três verbos que são muito significativos para nós, irmãos franciscanos, que queremos seguir Jesus Cristo no caminho de Francisco de Assis”, indicou o frade.

O dia, contudo, começou com a Oração da Manhã, com o tema “Cristo, única fonte de misericórdia”: “Irmãos, hoje é tempo de pedir perdão ao Senhor pelas vezes que, através das nossas ações, ferimos de várias maneiras o carisma franciscano e, neste caso, o próprio Senhor”, rezaram. Esse gesto foi feito pelos frades escrevendo num pedaço de papel quando não foram fiéis ao que prometeram a Deus. No centro da capela, ao lado quadro da Regra de Vida dos Frades Menores, uma imagem de São Francisco e uma vela acesa, foi colocado um vaso para depositar o papel queimado com o que estava escrito.

Frei Vanildo explicou que aproximar é sair da nossa zona de conforto, de tranquilidade, e ir ao encontro daquelas pessoas que aí estão da nossa sociedade e das quais ninguém se aproxima. “Todo mundo passa ao lado, passa ao longe, desvia o olhar. Fazendo aquilo que Francisco de Assis fez em seu tempo. Eram os leprosos que eram jogados para fora da cidade, e todo mundo passava longe deles. E até colocavam uma sinetinha no leproso para que todos soubessem que ali estava e ninguém se aproximasse dele. Francisco faz exatamente o contrário. Ele desce do cavalo, se aproxima e beija o leproso”, recordou.

Para o assessor, hoje, nas nossas cidades, nossas estradas, no campo, há muitas pessoas das quais a sociedade evita olhar, evita se aproximar. “E a elas somos convidados a ir ao encontro, nós, irmãos franciscanos, e toda a Igreja, porque isso não é só para franciscanos e para irmãos leigos. E para toda Igreja e para todo cristão. Porque esse foi o caminho que o próprio filho de Deus escolheu. Ele escolheu aproximar-se da humanidade, fazer-se humano, ele sentiu a nossa dor e sofrimento e veio ao nosso encontro”, disse Frei Vanildo.

“E escutar não apenas com o ouvido. O que o Papa Francisco nos convida é escutar com o coração. É um jeito diferente de escutar, não escutar buscando alguns métodos, mas escutando o coração do outro, compadecendo, sofrendo junto com o outro o seu sofrimento. Não o nosso. Hoje existe muito aproximar-se para satisfazer-se a minha consciência que se sente culpada diante de tantas pessoas que sofrem. Não sou eu o centro. O outro é o centro. E a parábola do samaritano é muito eloquente quando o jovem chega e pergunta para Jesus com o interesse da própria salvação e Jesus diz: olha não pode buscar a própria salvação. A gente tem se preocupar com salvação daquele que está caído à beira do caminho”, acrescentou.

Segundo Frei Vanildo, ter o coração aberto para escutar o sentimento do sofrimento do outro e discernir qual é o melhor caminho, qual é o melhor modo de fazer isso. “Há muitas soluções para os problemas que temos hoje na sociedade e é preciso ter os olhos bem abertos, o coração aberto e a mente aberta em muitas dimensões. Às vezes, a dimensão mais espiritual, perguntando-nos: o que Deus quer de mim hoje? E aí a Palavra de Deus é a grande luz que pode nos ajudar nesse discernimento. A oração é outra grande luz que pode nos ajudar nesse discernimento”, explicou sobre o terceiro verbo.

E ele ensinou: “Nunca podemos decidir sozinhos. Sempre quando vamos buscar uma decisão, vamos nos colocar sob o olhar de Deus, vamos escutar o que Ele tem a nos dizer e a oração é o melhor caminho. É o que sempre São Francisco fazia. Antes de qualquer decisão, ele tomava um tempo para a oração. É o que o próprio Jesus fazia, quando ele sentia que era preciso buscar um caminho, ele se retirava para rezar em silêncio. A Palavra de Deus, a oração e também a habilidade que Deus nos dá: a ciência, o conhecimento, não podemos fazer as coisas às cegas, achando que nós sabemos tudo. Se tem uma pessoa doente, eu não sou médico, tenho que buscar alguém que conheça a medicina. Se é um problema jurídico, eu não sou advogado, eu não posso orientar se eu não tenho conhecimento legal. E assim em todos os âmbitos do conhecimento nós precisamos buscar as luzes também da ciência, principalmente buscar juntos. Nós não podemos achar que temos a solução para tudo. Somos convidados sempre agir em comunidade, agir em Igreja, e agir como sociedade”.

“Esses três verbos – aproximar, escutar e discernir – são palavras orientadoras do nosso agir e do nosso ser como irmãos, como frades e como cristãos”, concluiu Frei Vanildo.

À tarde, Frei Vanildo ilustrou toda a reflexão a partir dos textos franciscanos. Segundo ele, minoridade é condição para a fraternidade. “Só quem vive a minoridade é capaz de relações fraternas”, lembrou.

Nesse clima sinodal, os frades se encontraram na Noite Cultural, que agora tem uma diversidade maior com a ampliação da Conferência. De regiões e países, os frades compartilharam um pouco de sua cultura, de suas tradições e costumes.

Nesta quinta-feira, os frades voltam, de manhã, à experiência nos trabalhos do Serviço Franciscano de Solidariedade e Frei Vanildo faz a sua última reflexão com os frades, levando-os a redigirem a Regra de Vida dos Frades Menores no contexto atual.

Moacir Beggo

Fonte: Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil


ÍNTEGRA DA CARTA DO MINISTRO GERAL

Ao Congresso de Irmãos Leigos da Conferência Brasil-Cone Sul
Roma, 8 de novembro de 2023

Caros irmãos,

que o Senhor lhes dê paz!

Junto-me com alegria no encontro de vocês, que é o primeiro daqueles que o Capítulo Geral de 2021 solicitou para toda a Ordem. Agradeço do fundo do coração por abrirem o caminho, que não é fácil para todos os irmãos do mundo aceitarem e promoverem. No entanto, ele é necessário! Por quê?

Tento compartilhá-lo com vocês.

  1. O encontro de irmãos religiosos é vital para a fraternidade da Ordem, antes de tudo como uma memória carismática. A nossa identidade fundamental é a de sermos irmãos e menores: foi assim que recebemos o dom de viver o Evangelho e de anunciá-lo. Esta vocação é aquilo que nos une e nos identifica como frades menores. A todos, e antes que um ou outro ministério. Convido-os a aprofundar isto.
  1. O encontro dos irmãos leigos é importante para recordar a dimensão laical da nossa vida evangélica. Não é primordialmente o ministério ordenado, com a sua dimensão de “separação” e de sagrado, que nos define, mas sim a vida como tal, em contato com tudo o que é humano, amando-a e aprendendo com isso. Aqui amadurece a abertura evangélica para o que é humano, incluindo a dimensão do trabalho, a presença entre e com as pessoas, a corresponsabilidade com as mulheres e os homens do nosso tempo para as questões mais vitais de hoje, entre as quais a paz, a justiça e o cuidado com a casa comum.
  1. O encontro dos religiosos irmãos e aquilo que frutificar nele pode ajudar a todos nós a alcançar um contato renovado com a vida religiosa como tal, sem “acréscimos”.

Precisamos disto também para que nós, os irmãos presbíteros, consigamos viver duas vocações que permanecem diferentes e que devem aprender a viver em uma tensão dinâmica e criativa. Assim, precisamos uns dos outros para crescer na mesma vocação.

Caros irmãos,

Recomendo a vocês abrir um espaço de escuta, de partilha, de olhar aberto, para ouvir o que o Espírito está dizendo hoje à Igreja e à nossa fraternidade.

Peço a vocês a ousadia de olhar com coragem o presente e o futuro, para que possamos viver a nossa vida com alegria e audácia.

Convido vocês a testemunharem a graça de um caminho simples de Frades Menores, gasto na busca do Senhor, na fraternidade, como menores e pobres, capazes de caminhar entre e com os pequenos e os pobres de hoje, na missão de anunciar o Evangelho.

Que o Senhor os acompanhe nesse caminho e proteja a todos nós!

Saúdo-os fraternalmente com a Bênção de São Francisco.

Frei Massimo Fusarelli, OFM

Ministro Geral