Frei André Luís, OFM partilha um pouco da sua experiência missionária no Panamá

David (Panamá) – Com o coração transbordando de gratidão, escrevo estas palavras após alguns meses vividos intensamente no Hogar Medalla Milagrosa. Um período curto no calendário, mas profundamente marcante para a alma e para a vocação. Cada rosto, cada sorriso, cada lágrima e cada gesto partilhado permanecem vivos em mim como sinais da presença silenciosa, porém real, de Deus. Ele se fez próximo no cotidiano dos irmãos e irmãs migrantes, das crianças, dos colaboradores e de todos que habitam esse espaço, que se tornou sagrado para mim.

Cheguei como franciscano com o desejo sincero de servir, mas fui surpreendido: fui evangelizado pelos pobres, acolhido por quem pouco ou nada possui, amado por aqueles que tantas vezes o mundo rejeita ou ignora. Com vocês, descobri que a presença de Cristo se revela, de forma especial, na vulnerabilidade. E que a verdadeira fraternidade nasce nos detalhes mais simples do dia a dia, no cuidado, na escuta, na partilha silenciosa do sofrimento e da esperança.

Durante minha presença fraterna no Hogar, pude acompanhar de perto o pulsar da missão: a rotina desafiadora e, ao mesmo tempo, profundamente humana, de quem se dedica aos mais vulneráveis. Foi um tempo de convivência intensa com migrantes, crianças, colaboradores e voluntários, marcado pela escuta atenta, pela entrega generosa e por um aprendizado constante. Ali, valores como respeito, acolhida e solidariedade não eram apenas ideais, mas práticas vividas com coragem e ternura.

Quero expressar minha profunda admiração pela força e entusiasmo de tantos voluntários e instituições que, mesmo diante de cenários desumanizadores e muitas vezes caóticos, seguem firmes na causa dos migrantes. Em tempos de indiferença e exclusão, manter-se disponível para servir é um ato profundamente evangélico e, sobretudo, profético.

A missão junto aos que sofrem exige mais do que boa vontade: exige presença autêntica, olhar compassivo, coragem para nadar contra a corrente e fidelidade radical à dignidade humana. Como filhos e filhas de São Francisco, somos chamados a estar ao lado dos esquecidos, daqueles que batem à porta buscando não apenas pão, mas também escuta, cuidado e dignidade.

O Hogar não foi apenas um lugar de missão: foi um verdadeiro espaço de encontro com Deus. Levo comigo mais do que lembranças, carrego uma transformação interior profunda, que continua a ressoar no meu modo de ver o mundo e de viver a fé. Agradeço de coração a todos que fazem parte desta missão.

Que continuemos unidos na mesma fé, esperança e caridade. E que São Francisco e Santa Clara sigam nos inspirando a servir com alegria, simplicidade e coragem.

PAZ e BEM!

Frei André Luis dos Santos, OFM