LEITURAS: Ex 3,1-8a.13-15 / Sl 102 / 1Cor 10,1-6.10.12 / Lc 13,1-9
Dentre os evangelistas, somente Lucas descreve estes acontecimentos trágicos que envolveram galileus e Pilatos e os moradores de Siloé. Quanto às ações de Pilatos, não é estranho que ele tenha massacrado galileus. Seu caráter opressivo não permitia nem oposição, nem concorrência. O historiador Flávio José, contemporâneo de Jesus, fala de um massacre de samaritanos e de outro de judeus realizados por Pilatos.
O que interessa para Lucas é mostrar que Jesus não é alienado aos acontecimentos da história e que o Reino de Deus acontece neste mundo em meio às belezas e às tragédias. Por outro lado, Lucas insere imediatamente depois destes relatos a parábola da figueira que não produzia frutos. A mensagem é que Deus nunca abandona o seu povo, mesmo quando os seus filhos e filhas pecam e não produzem frutos do seu Reino.
Do ensinamento de Jesus fica claro que a ideia de um Deus que castiga os pecadores está superada. Já o relato da primeira leitura mostra que Deus é bom, que é o Deus único, “Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó”, é “Aquele que é”, o existente, Aquele que está presente na vida do seu povo, que ouve o clamor dos escravizados e oprimidos e age para libertá-los. Para os autores do livro do Êxodo, Deus não olhou para os pecados do seu povo, mas ouviu o seu clamor pela liberdade, pela dignidade e pela vida.
A ideia de um Deus castigador está presente também no pensamento do apóstolo Paulo, como vemos na segunda leitura dizendo que aqueles que desagradaram a Deus morreram no deserto sem chegar à terra prometida. Daí sua pregação aos cristãos que são convidados à conversão, que significa deixar para trás o pecado e abraçar a vontade de Deus vivendo o amor, a misericórdia e a solidariedade.
Para nós hoje, vivenciando a Quaresma, as leituras nos mostram que Deus espera a nossa conversão. A figueira que não produzia frutos é uma imagem eloquente para todos os cristãos de hoje, pois Deus continua nos acompanhando em nossa história. Os acontecimentos tristes ou trágicos não são simplesmente sua vontade, mas fazem parte de nossa história, às vezes da crueldade humana, e muitos podem ser evitados. Então fica claro o convite à conversão e à ação para que vidas sejam respeitadas, seja do ser humano, seja de toda a criação. Particularmente os cristãos, mas também todos os homens e mulheres são chamados a produzir frutos de amor, de misericórdia e de solidariedade.
Frei Valmir Ramos, OFM