Festa da Dedicação da Basílica de Latrão: “Destruí, este Templo, e em três dias o levantarei!”

LEITURAS: Ez 47,1-2.8-9.12 / Sl 45,2-3.5-6.8-9 / 1Cor 3,9c-11.16-17 / Jo 2,13-22

A Basílica de São João de Latrão foi construída pelo imperador romano Constantino depois do ano 313 e consagrada em 324. Foi dedicada a Cristo Salvador, a São João Batista e a São João Evangelista. É a mais antiga das igrejas de Roma e é considerada a igreja-mãe de todas as igrejas católicas, por ser a catedral do Papa. Foi lá que São Francisco, em 1209, pediu ao Papa Inocêncio III a autorização para viver o Evangelho em seu estilo pobre e itinerante e anunciar a conversão para que todos chegassem à salvação. Hoje os frades franciscanos exclusivamente são os responsáveis por atender as confissões nesta Basílica em diferentes línguas.

Dedicar ou consagrar uma Igreja significa destinar o lugar a Deus, “reservar” a Ele um lugar, onde dar-lhe honra e glória. O evangelista João narra que Jesus estava no templo de Jerusalém, lugar para onde acorriam multidões em tempos de festas. De acordo com a narrativa, Jesus observou que a finalidade do templo estava distorcida e havia grande comércio de animais para os sacrifícios e de outros produtos destinados à liturgia do Templo. Além das mesas dos cambistas que trocavam as moedas romanas por moedas do templo. Aí Jesus pegou no chicote de cordas, expulsou os vendedores de ovelhas, de bois e de pombas, derrubou as mesas dos cambistas e mostrou que tinham transformado a casa de Deus num mercado. Ele estava mostrando que tinha chegado um tempo novo, o tempo da salvação, e Ele próprio era o novo Templo no meio da humanidade com a Ressurreição. Nele Deus habita e Nele se manifesta ao mundo. É através d’Ele que o Pai se manifesta e oferece aos seus filhos e filhas o amor, a misericórdia e a salvação.

O mercado no templo era a forma mais evidente de desrespeito pela Lei de Deus dada a Moisés: “não tereis outros deuses diante de mim”. O que os vendedores e cambistas estavam fazendo era verdadeira idolatria do dinheiro. Pior, eles realizavam idolatria e exploração dos pobres que eram obrigados a trocar as moedas romanas e comprar animais para os sacrifícios.

Na primeira leitura o profeta Ezequiel leva esperança para o povo exilado (cerca do ano 570 a.C.), mostrando que Deus mesmo iria reconduzir o povo para Jerusalém e reconstruir o templo que havia sido destruído. Seria um tempo novo em que Deus habitaria no meio do seu povo e sua casa seria o templo. Deste templo brotaria água em abundância, que é um símbolo universal de vida, de fecundidade, de abundância, de felicidade e reflete o poder vivificante do próprio Deus.

Já na segunda leitura, São Paulo afirma aos coríntios que os cristãos são “templo de Deus e que o Espírito de Deus habita neles”. Isto significa concretamente, que, animados pelo Espírito, eles têm o dever de ser o sinal vivo de Deus e as testemunhas da sua salvação diante das pessoas do nosso tempo. Daí a necessidade do grande respeito pela vida humana, o empenho em combater as injustiças que desprezam a dignidade das pessoas, que traficam, abusam, escravizam ou castigam as pessoas impondo situações de fome e miséria.

Aos cristãos de hoje, Jesus ensina que o local de culto é Casa de Deus e deve ser respeitado como tal, além de servir como local de verdadeira escuta de sua Palavra e de compromisso com o seu projeto de vida digna para todos os seus filhos e filhas. Para isto é necessário traduzir a Palavra em gestos concretos de doação, de entrega, de serviço simples e humilde aos irmãos, especialmente aqueles que são vítimas da exploração, de enganos, de abusos e de injustiças que destroem o templo onde mora o próprio Deus.

Frei Valmir Ramos, OFM