LEITURAS: At 9,26-31 / Sl 21 / 1Jo 3,18-24 / Jo 15,1-8
O ensinamento de Jesus que o Evangelho deste Domingo nos traz faz parte de um longo discurso de despedida que João Evangelista insere nos capítulos 13 a 15. Como lemos no capítulo 13, Jesus está realizando a sua última ceia com os discípulos e, depois de lavar os pés de cada um deles, começa este discurso. Nos versículos deste Evangelho Jesus usa a imagem bíblica da videira que indicava o povo de Deus. Agora Ele é a videira verdadeira, que congrega a nova família de Deus, a Igreja, e mostra a necessidade de que esta dê muitos e bons frutos como ramos ligados ao tronco.
Depois da ressurreição de Jesus, quando os discípulos estavam levando adiante a missão repassada por Ele, existia o sentimento de um vazio deixado por Jesus de Nazaré, pois sua presença não era mais visível. Também existiam dificuldades a serem enfrentadas por eles, pois os cristãos aumentavam sempre mais e em muitos lugares. É neste contexto que o ensinamento de Jesus é lido.
A videira é podada para produzir mais e melhores frutos. Jesus afirma que o Pai “corta o ramo que não dá fruto” e “limpa o que dá fruto”. O verbo aqui traduzido como limpar é “podar” e significa preparar o ramo para dar frutos. Contudo, Jesus é claro em dizer que é preciso “permanecer nEle” para dar frutos. A parte separada seca. Os frutos são aqueles da vivência da fidelidade para com Deus como verdadeiros discípulos de Jesus e do amor para com os irmãos. Na segunda leitura, São João diz que este amor deve ser “com ações e de verdade”. Ele ainda diz que o mandamento de Deus é “crer em Jesus Cristo e amar uns aos outros”. De fato, as comunidades primitivas enfrentavam dificuldades em manter-se fiéis a Jesus Cristo, ressuscitado e presente com elas de forma invisível, e ainda existiam aqueles que faziam belos discursos, mas não viviam a caridade e não eram solidários.
A leitura dos Atos dos Apóstolos traz o primeiro medo dos cristãos. O autor diz que os cristãos de Jerusalém estavam com medo de Paulo porque ele os perseguia. Era verdade, mas é possível pressentir neles uma resistência à novidade de Paulo. A comunidade de Jerusalém estava comodamente levando adiante a missão, quase limitada àquela região. Paulo chega com um discurso de evangelização a todos os povos, fala com firmeza nas sinagogas e discute com os judeus de língua grega. Ele anuncia sem medo que Jesus é o Salvador. Ele conhece as Escrituras e enfrenta os judeus, como depois vai enfrentar os gregos e os romanos.
Para nós hoje é preciso ter esta clareza: nenhuma iniciativa de autorreferencialidade vai produzir fruto bom. Jesus é a meta, o centro e o conteúdo da vida e da missão cristã. A Igreja e todo evangelizador precisam anunciar Jesus Cristo e a sua Palavra e não a si mesmos. Também não podem confiar somente em suas próprias forças e estratégias, pois quem mantém a Igreja viva é o Ressuscitado.
Frei Valmir Ramos, OFM