4º Domingo da Páscoa: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância!”

LEITURAS: At 2,14a.36-41 / Sl 22 / 1Pd 2,20b-25 / Jo 10,1-10

O ensinamento de Jesus que vemos neste Evangelho está no contexto da festa das tendas (iniciado no cap. 7 de Jo). O texto mostra que Jesus está em Jerusalém no templo ou em suas imediações. Existem discussões entre o povo e os fariseus sobre a identidade de Jesus que aos poucos vai se revelando como o Messias prometido por Deus. Com as imagens simples do pastor e do rebanho, o que era comum na cultura judaica, Jesus mostra que Ele é o “bom pastor” capaz de dar a vida por suas ovelhas. Quando Ele diz “eu sou a porta”, está indicando que é o único mediador entre Deus e o seu povo e vice-versa, quer dizer, através dele o Pai se comunica com os seus filhos e filhas e estes têm acesso ao Pai criador. Jesus é a porta que leva à vida, aberta, apesar de estreita (cf Lc 13,24), quer dizer, que exige amor, prática da justiça e serviço.

Jesus inaugura um modo de estar com as ovelhas, isto é, de ser o pastor que não é o dono que comanda, mas o companheiro que cuida e é reconhecido pela voz. A relação pastor e ovelha é baseada no amor mútuo, que tem seus fundamentos na relação do Pai que ama o Filho e este ama o Pai (cf Jo 14,20). Já no Antigo Testamento existia a ideia de Deus como um pastor que cuida de cada uma das ovelhas, especialmente as mais frágeis. Na prática, foi o que Jesus sempre fez e ainda pediu aos discípulos que o fizessem para não deixar nenhuma ovelha perdida ou sem cuidados.

Uma frase resume a missão de Jesus e a importância que Ele atribui à vida: “eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”. Para Jesus a vida é mais importante que a Lei (cf Mc 3,4) pois Deus é Deus dos vivos e não dos mortos (cf Mc 12,27). São João evangelista usa expressões claras: Jesus é Palavra de vida, é o caminho, a verdade e a vida, é a ressurreição e a vida, é a luz da vida, é a água viva, é o pão da vida. Com a ressurreição, a morte foi vencida pela vida.

Na segunda leitura vemos como Pedro escreve às comunidades que passam por sofrimentos (perseguição, injúrias, ameaças e morte). Ele entende que os cristãos deveriam viver o que havia pedido Jesus: “amai os vossos inimigos”, pois Jesus mesmo “não retribuía as injúrias, não ameaçava… e carregou nossos pecados em seu próprio corpo”. Por isso mesmo, Ele é reconhecido como o “pastor e guarda de nossas vidas”.

São Pedro também nos Atos dos Apóstolos dá testemunho do Ressuscitado e convida os judeus à conversão: “Deus constituiu Senhor e Cristo a este Jesus que vocês crucificaram”. A missão dos cristãos, então, será a de cuidar para que todas as pessoas tenham vida em abundância, pois a vida está acima da lei e dos preceitos humanos.

Frei Valmir Ramos, OFM