LEITURAS: Dt 8,2-3.14b-16a / 1Cor 10,16-17 / Jo 6,51-59
O Evangelho desta solenidade apresenta Jesus ensinando em Cafarnaum e se revelando como “o pão vivo que desceu do Céu”. O capítulo 6 do Evangelho de João apresenta a multiplicação dos pães, Jesus que caminha sobre o mar e o discurso sobre o pão da vida. Aos poucos, Jesus amplia a revelação de sua divindade e mostra a necessidade dos filhos e filhas de Deus estarem em comunhão com Ele. Na tradição bíblica já se usava o pão para o culto de libação e era sinal de comunhão entre Deus e seus fiéis, apesar de o pão ser reservado somente aos sacerdotes (cf Lv 24,5-9).
Hoje, Jesus mostra aos seus ouvintes que Ele, Palavra de Deus encarnada, desceu do céu e se doa como alimento. Ele vai então, muito além do pão material que tinha multiplicado para os famintos e refere-se à vida eterna. Portanto, seus seguidores deveriam praticar a sua Palavra e alimentar-se de seu corpo para manterem-se em comunhão com Ele. Assim como Ele vive em comunhão com o Pai, assim também Ele quer seus discípulos e discípulas participando desta comunhão, por isso diz: “quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele”. Os judeus reagiram, pois parecia que Jesus estava falando de sacrifícios a ídolos em que se ofereciam carnes de animais e, mais ainda, porque o conheciam como filho de José e não podiam imaginar como Ele daria a sua carne e o seu sangue como alimento para a “vida eterna”. Alguns abandonaram o grupo de seguidores, pois consideraram “esta palavra muito dura” (cf Jo 6,66).
No final, o texto do Evangelho menciona o pão que Deus prometeu ao seu povo libertado do Egito (cf. Ex 16,4) e que vem referido na primeira leitura. Jesus diz que dele comeram e morreram, pois era o pão necessário ao sustento da vida material. Enquanto Ele é “o pão que desceu do céu” como “verdadeira comida” e “verdadeira bebida” que alimenta o espírito para a vida eterna. Esta é a realização da Eucaristia que Ele instituiu e pediu que a celebrassem em sua memória. Para São Francisco de Assis, é uma extrema humildade a de Jesus, escolhendo as espécies do pão e do vinho para estar com os seus para sempre.
Os cristãos de hoje são chamados a viver com intensidade não apenas a devoção à Eucaristia, mas também a “nova aliança” de amor e empenho com o projeto de Jesus. O sangue de Jesus não pode lavar apenas e intimamente os meus pecados sem a minha participação. Ele mesmo conclama a todos os cristãos para agir para extirpar o pecado social, não permitindo que a vida humana seja ameaçada, que a dignidade humana seja pisoteada pela fome, que por falta de partilha a morte atinja pessoas inocentes, que a ganância provoque a extinção de etnias sobreviventes, que o racismo, a discriminação e a xenofobia causem a morte e destruição de irmãos e irmãs destinatários da nova aliança.
Frei Valmir Ramos, OFM