LEITURAS: Os 11,1.3-4.8c-9 / Is 12,2-6 / Ef 3,8-12.14-19 / Jo 19,31-37
São João narra que Jesus havia ensinado os seus discípulos “que não existe maior amor que dar a vida por seus amigos” (cf. Jo 15,13). De fato, Jesus, no seu infinito amor pela humanidade, entregou a sua vida e morreu na cruz. No Evangelho desta solenidade do Sagrado Coração vemos como um soldado transpassou o lado de Jesus com a sua lança. Com esta narrativa, São João dá testemunho de dois fatos: primeiro que Jesus morreu na cruz; depois que do lado aberto brotaram “sangue e água”. Para São João evangelista, a água é sinal do Espírito que faz renascer e sacia a sede (cf Jo 3,5; 4,13s); o sangue é distribuído aos cristãos na Eucaristia como alimento para a vida eterna e sinal de comunhão com Cristo (cf Jo 6,53-56). Água e sangue têm poder vivificante e dão vida à Igreja de Jesus, sua nova família.
A carta aos Efésios prega que “pela fé em Cristo podemos nos aproximar de Deus com toda confiança”. Depois, que os cristãos “profundamente enraizados na caridade, podem compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento”. De fato, assim é o amor infinito de Cristo pela humanidade que só pelo amor pode ser compreendido. Já o profeta Oséias havia anunciado o grande amor de Deus pelo seu povo e, usando uma linguagem materna, Deus revela o seu cuidado como o de uma mãe para com o filho. Por isso Deus o tirou do Egito, da terra da escravidão e o conduziu à liberdade com zelo e com um coração compassivo.
A vinda de Jesus para o meio do seu povo, a sua ação libertadora e salvadora sendo obediente ao projeto do Pai até entregar a própria vida, revela o amor concreto por cada filho e cada filha de Deus. Por isso, podemos dizer que o sangue e a água que brotaram de sua chaga é amor transbordante do seu coração.
São Francisco de Assis tinha uma espiritualidade e devoção profunda à humanidade de Cristo, particularmente aos mistérios da Paixão. Daí a sua contemplação dos sofrimentos e das cinco chagas de Cristo, especialmente da chaga do lado, que passou ao próprio Coração de Cristo, como símbolo do amor e fonte de toda a graça. Para o franciscano são Boaventura, esse amor deve levar a uma verdadeira comunhão de corações, com Cristo e os irmãos. Ele afirma: “O Coração de nosso Senhor foi transpassado por uma lança para que através da ferida visível possamos ver a ferida invisível do seu amor”. Já no século XIII, os frades franciscanos fizeram do Coração de Jesus objeto de meditação e pregação, de estudo e ilustração ascético-doutrinal, de invocação e culto, chegando a ver no Coração de Cristo a síntese e a verdadeira meta de toda a sua espiritualidade ligada ao divino Redentor. A finalidade da devoção ao Coração de Cristo era entendida como resposta de amor ao infinito amor do Senhor pela humanidade.
Frei Valmir Ramos, OFM