A Paróquia Nossa Senhora de Lourdes e o Patronato Juvenil de Garça passam a contar com os trabalhos de um novo religioso. Natural de Teresina, no Piauí, frei João Paulo Gabriel Mendes, ingressou na vida religiosa em 2009, em Bacabal, no Maranhão, fazendo o noviciado em Teresina.
Depois de quatro anos afastado da religião, voltou ao seio franciscano em Franca, no interior paulista, sendo que também atuou em Goiás, depois em Marília e posteriormente na capital paulista, onde atuou junto a pessoas em situação de rua. Lá atuou em projetos como reciclagem de lixo e apoio a pessoas mais vulneráveis socialmente.
Desde o último dia 05 de fevereiro, seu desafio é atuar junto à comunidade garcense, em busca de dar uma continuidade no seu trabalho social, sendo que isso também passa pelo Patronato, entidade que é uma referência no atendimento de crianças e pré-adolescentes há 65 anos.
Como presidente de honra da instituição, o novo frei ressalta que sua caminhada é buscar dar os passos conforme São Francisco e tentar ajudar os mais pobres, aqueles que sofrem no seu cotidiano e que se mostram ainda mais vulneráveis num cenário complexo como o atual, com o aumento da pobreza e com os efeitos causados pela pandemia. Ele sustenta que busca levar um pouco de esperança para quem acha que já não tem mais.
“A minha proposta, como religioso franciscano, é sempre trabalhar nesses projetos sociais. É onde me encontrei como vocacionado, como franciscano e toda a minha caminhada, em 12 anos de vida religiosa, ela vai me carregando nesse lado assistencialista, social. Primeiramente tentamos matar a fome e depois buscamos saber qual a fonte dessa fome”, diz o religioso.
Essa chegada à Garça e ao Patronato, na visão do religioso, foi um pouco diferente, já que não foi possível inicialmente ter um contato com o povo, com os fiéis, sendo que apenas com os funcionários e com a diretoria ocorreu essa aproximação, devido ao cenário criado pela pandemia. Aos poucos, a proposta que ele leva consigo, de enxergar o outro como irmão, já está presente naquelas pessoas que fazem parte da instituição.
“Queremos encontrar o olhar de Jesus Cristo nessas pessoas que chegam até aqui, independentemente que seja uma criança que vem de uma família de dependentes químicos, se vem de alcoólatras, enfim, de onde venham, são vistas como crianças, são respeitadas no seu modo de ver o mundo e sempre são apresentados a elas, pelo que estou percebendo no comportamento das professoras, esses valores. Não vou dizer que sejam franciscanos, já que seria muito egocentrismo, mas valores de cidadão de mundo, sinto muito isso nas conversas com os funcionários e professores”, aponta.
O frei sustenta que a entidade tem 65 anos e conta uma longa história de dificuldades e de muitas alegrias também e que espera que essas alegrias continuem a vir para que o trabalho seja continuado. Ele observa que o espaço do Patronato é encantador, com muitos recursos pedagógicos e com características que seriam comum apenas a instituições privadas e que a entidade consegue oferecer em uma área periférica da cidade de Garça. “Espero que as crianças se sintam em casa nesse espaço”, observou.
Frei João Paulo lembra que na capital paulista trabalhou com a movimentação de voluntários em tendas franciscanas, com pessoas de diferentes crenças em busca de uma ação de solidariedade.
“Talvez seria possível trazer aqui. É uma ponte de voluntariado, pessoas que enxergam o mundo com os olhos de São Paulo capital para poder enxergar um pouco o mundo com os olhos de São Paulo interior. São dois mundos diferentes. E fazer também com que pessoas do interior possam enxergar esse mundo”, afirma o religioso.
“Penso muito nesse vínculo com voluntários, já que, se nós não tivermos esse vinculo grande com a sociedade civil, a gente não consegue dar um passo. A ordem franciscana tem 800 anos de história e pode ser consolidada como instituição, mas sem o povo a gente não consegue ser nada”, conclui.
“O que recebemos em troca não tem preço”
Além do novo frei, o Patronato passa também a contar com um novo diretor. Na verdade, trata-se do retorno de um dirigente, que esteve à frente da entidade entre 2011 e 2013. Trata-se do advogado Ricardo Alexandre Valsechi Conessa, que também já fez parte de outras diretorias e conselhos da instituição.
Para ele, a ação voluntária para tocar o Patronato é algo de significativa responsabilidade, no entanto, quem atua nesse segmento recebe mais do que doa. “Isso é uma coisa que eu aprendi quando tinha 35 para 36 anos e encarei o desafio na época e me surpreendeu. Eu tenho uma gratidão tão grande pelo Patronato que acho que não fui eu que doei nada, foi eu que recebi. Assim, quando fui novamente convidado, não pensei duas vezes. Tenho um amor por aqui e penso que estou retribuindo por aquilo que já ganhei”, declarou Ricardo, visivelmente emocionado, que expressou em lágrimas sua relação com a entidade. “O que recebemos em troca não tem preço”.
Para o diretor, um desafio para quem atua no Patronato é quebrar um ciclo, oferecendo um espaço para que as crianças possam ter uma estrutura boa, um ensino diferenciado e que as famílias também sejam envolvidas.
“Na primeira vez, tivemos um jornada pesada. Logo no primeiro mês que assumi, tínhamos um caixa para o pagamento de apenas um mês, não tinha dinheiro na instituição, não tinha estatuto, não tinha regras. Estava bem complicado. E graças a Deus, com o frei Vagner, com a diretoria e, principalmente, com os funcionários, fizemos várias reuniões e desenvolvemos uma terapia do abraço, para indicar que os funcionários faziam parte de um projeto maior, de transformar vidas”, sustenta.
Essa iniciativa logo passou a dar resultados, o Patronato passou a contar com melhores resultados e o projeto de mudar vidas passou a ser uma realidade, que é verificada hoje até mesmo pelas redes sociais, com muitos ex-atendidos relatando sua vida e as mudanças que foram processadas após a passagem pela instituição.
Em sua primeira gestão à frente da entidade, com apoio incondicional do frei Vagner, Conessa buscou implantar algumas mudanças na estrutura do Patronato, como a criação de uma brinquedoteca, uma modificação organizacional, um investimento em reformas, em pinturas (deixando o espaço mais alegre e confortável para as crianças), entre outras melhorias.
Agora, ao retomar a direção, Conessa destaca que várias ações foram deixadas pelas diretorias anteriores e que vão garantindo uma estrutura ainda mais forte ao Patronato. Dentre essas melhorias estão a reforma de banheiro, da cozinha e da quadra esportiva, o projeto de energia solar, a captação de água pluvial, sendo que também há a expectativa da retomada do projeto da horta desse espaço.
O diretor agradece a toda a comunidade pela continuidade das doações à instituição, mesmo diante do caos gerado pela pandemia do coronavírus. Por sua vez, a recepção dos alunos tem sido um problema complexo, já que há diversas diretrizes a serem cumpridas e há a expectativa de que, no próximo dia 01 de março, as crianças voltem a ser atendidas no Patronato, que já se adiantou e passou a oferecer toda a infraestrutura relacionada aos cuidados com os alunos, como o uso de máscara, higienização, uso de álcool em gel, determinação de distanciamento, entre outros procedimentos.
O novo diretor lembrou, ainda, que o novo grupo eleito para administrar o Patronato teve uma renovação interessante em sua composição, com novas pessoas também se dispondo a atuar junto à entidade, trazendo novas ideias e opiniões.
“Foi uma renovação muito boa, de novas pessoas vindo. Temos algumas ideias a ser debatidas, mas que dependem ainda das circunstâncias, como aulas de música, de educação física, como artes marciais, mas como é contato ainda precisamos aguardar”, indica.
O Patronato de Garça atende hoje 165 crianças e pré-adolescentes, numa estrutura das mais consideráveis e com uma equipe de mais de 25 pessoas, entre professores, assistentes sociais, psicólogos, coordenadores, entre outros.
Fonte: Garça em Foco