LEITURAS: Is 52,13-53,12 / Sl 30 / Hb 4,14-16; 5,7-9 / Jo 18,1-19-42
São João Evangelista narra a paixão e a morte de Jesus com detalhes de uma testemunha ocular e afirma, categoricamente, a identidade de Jesus: Filho de Deus, Rei do universo, Salvador da humanidade. Jesus se entrega aos que o procuravam durante a noite no Jardim das Oliveiras: “sou eu”. Ele não foge diante do perigo de morte, nem abre mão do projeto do Pai que é instaurar o Reino de amor e de paz, de vida e dignidade para seus filhos e filhas, mesmo que isto lhe custe a própria vida.
O Filho de Deus é reconhecido como aquele “Servo” anunciado pelo profeta Isaías, que é humilhado, mas não renuncia à sua missão. O profeta anunciava: “a verdade é que ele tomava sobre si nossas enfermidades e sofria, ele mesmo, nossas dores”. Por um amor infinito é que o Filho de Deus se fez servo e o profeta anunciava que Ele “resgatava o pecado de todos e intercedia em favor dos pecadores”. E não só para salvar dos pecados o Filho de Deus se fez Servo, mas também para implantar o Reino de Deus neste mundo. No texto do Evangelho desta Sexta-Feira Santa vemos aparecer 8 vezes a palavra “rei” e mais 4 vezes a palavra Reino. “O meu Reino não é deste mundo”, diz Jesus, pois Pilatos pensava só no reino de poder e domínio, e Jesus atua para construir um Reino de justiça, de paz, de vida em abundância para todos. Por isso Ele é “Jesus” Nazareno, palavra que significa “Deus Salva”. O Evangelista usa a palavra Jesus bem 55 vezes nesta narrativa da paixão.
Pilatos era governador da Província romana da Judeia. A sua figura mingua diante de Jesus que cresce sempre mais como Rei. São João é o único a dizer que ele queria liberar Jesus, mas os sumos sacerdotes impuseram-lhe a pena de morte por causa da afirmação que Ele era o “Filho de Deus”. Esta é a verdade de Jesus que os judeus não aceitaram e recorreram ao governador para a sentença de morte. O governador fez a escolha do poder e do prestígio diante do imperador César. A cruz era a pior forma de condenação dos malfeitores. Para Jesus, no entanto, ela torna-se o trono do Reino de amor e serviço.
Os discípulos de Jesus foram formados neste caminho de serviço, pois o Mestre não recusou a cruz e a própria morte, e “na consumação de sua vida,
tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem”, como vemos na carta aos Hebreus. Na realidade, os discípulos só entenderam o mistério da cruz quando Jesus apareceu-lhes ressuscitado e enviou-lhes ao mundo para anunciá-lo e construir o seu Reino. Eis porque a cruz tornou-se sinal de salvação.
São João também é o único a narrar as palavras de Jesus à sua mãe que estava ao pé da cruz com um discípulo e outras discípulas: “este é o teu filho… esta é a tua mãe”. Para o evangelista, a morte de cruz cumpre as Escrituras que falavam do Filho de Deus e inicia o tempo do Reino de Deus neste mundo contando com os seguidores e seguidoras de Jesus. Hoje os cristãos são chamados a viver a solidariedade com todos que são crucificados com Jesus e lutar juntos para a libertação das amarras e dos sistemas que levam à morte.
Frei Valmir Ramos, OFM