Solenidade do Natal do Senhor: “O fazer-se carne foi a forma com que Deus escolheu para ser presença pessoal e sensível!”

Com uma página maravilhosa o Evangelho de João inicia com o anúncio de que Deus veio morar com o seu povo. “E a Palavra se fez carne e habitou entre nós”. É a Palavra de Deus que ama de forma infinita o seu povo que mora neste mundo e nem sempre aprecia a luz, a verdade, a vida. Na Sagrada Escritura a Palavra de Deus, “Dabar”, significa ação, Sabedoria, pois Deus fala agindo. Isto vemos já no Gêneses quando Deus diz, por exemplo, “faça-se a luz” e a luz começou a existir. E tudo foi criado pela sabedoria de Deus. O fazer-se carne foi a forma com que Deus escolheu para ser presença pessoal e sensível entre os seus filhos e filhas. Deus agora fala através do Filho: “Tu és o meu Filho, eu hoje te gerei”, diz na carta aos Hebreus. Toda a humanidade é interpelada pela Palavra, deve ouvir o que diz o Filho de Deus.

O nascimento do Salvador era esperado pelo povo de Deus. Já revelado pela mesma Sabedoria de Deus, o Salvador nasce como um menino do seu povo. O Evangelista o apresenta como Palavra que desde sempre estava com Deus, por isso não é criada, mas gerada no útero de Maria. Esta forma de vir participar da história da humanidade surpreendeu os doutores e mestres da Lei que não aceitaram Jesus como Salvador.

No Evangelho João contrapõe as situações da humanidade com aquelas que revelam Jesus: criaturas quando Jesus é Criador com o Pai; trevas quando Jesus é luz que ilumina todas as pessoas; fragilidade da carne quando Jesus é gerado pelo Espírito; finitude temporal quando Jesus é eterno; submissão à Lei quando Jesus é graça e verdade libertadora. A luz perpassará todo o Evangelho de João e será aquele que iluminará os olhos e as mentes para ver Deus presente no meio da humanidade.

O contexto em que surge o texto de Isaías (da 1ª leitura) é de opressão e domínio sobre o povo de Israel, o povo de Deus. O profeta vislumbra a salvação que vem de Deus através de um “novo rei” que voltaria a Sião, Jerusalém, para reergue-la das ruínas, alegrar o seu povo e torna-la centro de salvação para todos os povos. Num primeiro momento aparece a esperança de um rei político forte o suficiente para vencer os dominadores. Depois alcança uma dimensão mais universal de realização do bem e da paz.

Em nossos dias, o Natal significa nova esperança para a humanidade abrir bem os ouvidos para a Palavra morar na vida. Isto implica dar o devido valor a cada coisa: primeiro a vida com dignidade para todas as pessoas, a vida de toda a criação para dar condições de vida ao ser humano, a solidariedade que é expressão de amor verdadeiro ao próximo, o respeito ao ser do outro e das criaturas, até chegar aos verdadeiros valores humanos que distinguem os filhos e filhas de Deus das demais criaturas.

Frei Valmir Ramos, OFM