7º Domingo do Tempo Comum: “Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso!”

LEITURAS: 1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23 / Sl 102 / 1Cor 15,45-49 / Lc 6,27-38

No texto deste Domingo o evangelista Lucas apresenta o ensinamento de Jesus a uma multidão que está aí para vê-lo e ouvi-lo. Certamente o contexto de Igreja no tempo de Lucas transparece como pano de fundo, pois é uma Igreja perseguida, caluniada e que sofre ataques dos judeus e dos romanos.

Jesus ensina que é preciso amar até os inimigos. Nenhuma outra lei previa um amor assim grande e universal capaz de “amar os inimigos e fazer o bem aos que odeiam”. A ideia de um amor “justo” era aquela do “ama os que te amam”. Era retribuir o amor recebido. Jesus, no entanto, é a revelação do amor universal de Deus. Por amor a todos os filhos e filhas de Deus, amigos e inimigos de Deus, Ele assumiu a natureza humana, veio morar no meio da humanidade, abraçou a cruz e, pregado nela, amou os seus algozes pedindo ao Pai que lhes perdoasse. Este é o exemplo mais contundente do amor aos inimigos.

No ensinamento de Jesus está o modo de comportar-se dos seus seguidores: amar os inimigos, bendizer os que amaldiçoam, rezar pelos que caluniam, oferecer a outra face aos que batem, deixar levar aos que roubam, dar a quem pedir, fazer o bem a todos, emprestar sem juros, ser misericordiosos, não julgar nem condenar, ser generoso na medida. Este comportamento não é ingênuo ou de alguém sem a perfeita razão. Ao contrário, está fundamentado em valores espirituais que levam a pessoa a uma dimensão transcendente, muito além das simples reações humanas pontuais e mesquinhas.

Parece construir o “homem ou a mulher celeste” que diz Paulo na Carta aos Coríntios. É o homem ou mulher espiritual que não baseia a vida somente nas coisas materiais e nos contra valores deste mundo. Na primeira leitura vemos a narração de como Davi preservou a vida de seu perseguidor. Trata-se de uma perseguição para manter o poder, pois Saul era rei e se via ameaçado por Davi, que não era santo nem temente a Deus. Ele quis tirar proveito político e agiu de forma astuta para ganhar confiança. O seu escudeiro queria matar o rei e acabar com o “inimigo”. Este é o raciocínio imediato, mesquinho e rasteiro. A opção de Davi o levou ao trono e o fez um dos principais reis do povo de Israel.

São Francisco de Assis foi genial em agir com amor para construir a paz em 1219. Enquanto a Igreja mantinha as cruzadas contra os sarracenos tidos como inimigos, São Francisco foi ao encontro do Sultão em Damieta, no Egito, como irmão para dialogar com os irmãos sarracenos. Sua arma era o amor.

Os cristãos de hoje são chamados ao amor universal, sendo “mansos como as pombas e astutos como as serpentes” em um mundo materialista, individualista e que quer sempre destruir o outro para manter-se no poder ou na ilusão de ser melhor e levar vantagem.

Frei Valmir Ramos, OFM